A Crônica #001 – É matar ou morrer

Grande “Final do Brasileirão” termina com vitória flamenguista; no clássico paranaense da Série B, tudo igual; quem vai parar o Mirassol?

Alex Sandro, Arrascaeta, Pedro e Andreas

Flamengo 3 x 2 Palmeiras – Brasileiro 2025

Desde que o mata-mata foi trocado pelos pontos corridos, há 22 anos, final do Campeonato Brasileiro só existe no sentido figurado. 

Chama-se assim quando os dois times que disputam mais acirradamente o título se encontram, pelo acaso da tabela, na reta final do campeonato.

Aconteceu já em 2003, primeiro ano do novo formato, e também primeiro Brasileirão que tenho memória. Na ocasião, Cruzeiro e Santos se encontraram e a Raposa levou com sobras, o jogo e o campeonato. 

Em 2012, um eletrizante Atlético x Fluminense terminou com triunfo do Galo, mas, ao fim, título Tricolor. 

No meio destes, em 2008, um nervosíssimo Palmeiras x Grêmio, de vitória gaúcha, foi tratado como final, porém ambos concorriam contra uma terceira equipe, o São Paulo, justamente quem acabou abocanhando seu então tricampeonato consecutivo.

Em 2025, a existência do terceiro elemento é improvável, já que o Cruzeiro, cinco pontos atrás do líder com um jogo a mais, perdeu fôlego, e mesmo a vitória sobre o Fortaleza, na atual rodada, não será suficiente para tirar o foco da dupla de favoritos, Flamengo e Palmeiras.

Os dois grandalhões da atualidade só agora estão disputando um título brasileiro pau a pau, o que é até curioso, já que mandam no cenário nacional há sete ou oito anos. Mas, como diz o poeta, antes tarde do que mais tarde. Vamos à final!

Que é figurada, lembro, mas a emissora e a confederação bem que fizeram um gostinho de literal, ao colocá-la no horário nobre do domingo à tarde e sem nenhum jogo simultâneo.

As condições também acirravam. O Palmeiras entrava com três pontos de vantagem na tabela, o Fla, com o Maracanã cheio.

Com bola no campo, o lado verde começou mais à vontade e com iniciativa. Logo no segundo minuto, Andreas Pereira, vaiado (como era óbvio), bate escanteio, Gustavo Gómez alega empurrão de pênalti e o time verde inteiro esperneia contra o árbitro, que ignorou.

Nós, que achávamos que poderíamos ter sequer um fim de semana de futebol sem influência direta dos apitadores: esperançosos ou inocentes?

O lado rubro-negro chegou pela primeira vez só aos 9’, mas fazendo bem como deve se responder ao choro de arbitragem: com bola na rede. 

Pedro girou deixando Bruno Fuchs na miséria e deu um passe de camisa dez para Arrascaeta, o dez mais nove do mundo, que, na cara do gol, não titubeou contra o estreante Carlos Miguel.

Não apenas pela chuva intermitente, mas muito devido a ela, o jogo esfriou depois do gol. Reativo, o Flamengo era perfeito nos encaixes no onze contra onze.

Porém, Léo Ortiz sentiu o tornozelo, foi para fora do campo e Filipe Luís, sem definir se substituía ou não o zagueiro (e pausa teve para isso), permitiu um onze contra dez por dois minutos – o que é tempo demais num jogo destes. 

Sem nada com isso, Khellven levantou a famosa bola açucarada e Vítor Roque testou firme no canto de Rossi para empatar.

No melhor estilo jogo de xadrez, ora os comandados de Filipe, ora os de Abel Ferreira, agrediam um pouco mais, mas nada parecia muito contundente.

Até que, próximo dos 40’, Pedro chamou a responsa de novo, caindo na área após ser calçado por Fuchs, e Wilton Sampaio não teimou contra os 70 mil gritos de pênalti.

Se defendesse uma cobrança penal no jogo mais decisivo do campeonato, Carlos Miguel certamente faria a torcida alviverde esquecer o seu passado no arquirrival. Porém, contra Jorginho, um cobrador de ofício, era praticamente impossível. 2 a 1.

E quando o placar parecia definido para a saída do intervalo, Pedro deu o bote em Aníbal Moreno e partiu para a cara do gol para receber de Arrascaeta – agora sim, nos papeis originais – finalizar com tranquilidade e sair para a reverência.

Fazendo partida razoável do meio para frente, o time de Abel pagou o pato por o meio para trás ter entrado no mundo da lua. 

Na segunda etapa, o Verdão tentou achar jeitos de voltar para o jogo. Com Flaco López apagado, Vitor Roque chamou sozinho o jogo, mas o travessão parou o doblete. Uma batida longa de Andreas ainda assustou Rossi. Era pouco.

Mas quem mexeu no time foi o Flamengo, já pensando no Racing pela Libertadores, na quarta. Saúl, Plata e Carrascal, reservas-caviar, para os lugares de Pulgar, Lino e Arrascaeta, respectivamente.

O Palmeiras, que também tem Libertadores, e lá na altitude de Quito, na quinta, não quis saber muito de ir para o “tiro”. Nas primeiras mexidas, foi pragmático – Maurício por Allan, Aníbal por Emi Martínez.

Aos poucos, Abel foi se soltando: Felipe Anderson por Ramón Sosa (mexida que já cabia no intervalo); lateral Khellven pelo atacante Facundo Torres; e o retorno de Veiga, no lugar de Andreas, que antes de sair ainda escorregou numa batida de falta, levando, claro, os flamenguistas ao delírio – com gosto agridoce para alguns ainda machucados com 2021.

Mas se o grande público no Templo foi o 12⁰ jogador flamenguista, a chuva e o gramado pesado eram o 13⁰. Filipe colocou Bruno Henrique, mas só para Pedro receber os aplausos.

Já nos acréscimos, num raro lance de desatenção e espaços da defesa flamenguista, Sosa avançou pela lateral da área, bateu cruzado e, no rebote de Rossi, Gómez descontou. Mas já era tarde para buscar o empate.

A vitória na grande decisão do Campeonato Brasileiro 2025 foi do Flamengo. Mas, como é apenas figurada, não teve volta olímpica e o Palmeiras ainda está na frente da tabela, por ter 19 vitórias a 18.

Em pontos, no entanto, está 61 a 61. Quem conseguirá cravar alguma coisa?

Mais fácil de cravar é que os dois tenham, depois das finais figuradas, uma literal ainda neste ano, a da Libertadores.

Basta que o favorito rubro-negro avance sobre o Racing e o alviverde despache a LDU, o que é ainda mais provável.

Até o final do ano é só decisão – e o famoso “matar ou morrer”.

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Coritiba 0x0 Athletico-PR – Série B 2025

E por falar na expressão, clássicos como o Atletiba (ou Athletiba, com o “H” da “hodiernidade”) sempre são boas oportunidades para revivermos grandes expressões do glossário do ludopédio, como esta, “matar ou morrer”.

A máxima, neste caso, servia muito mais para o Athletico, que vem penando para conseguir finalmente entrar no G-4 da Série B, onde o Coritiba esteve o campeonato todo, e na maioria do tempo com gordurinhas a queimar.

Para piorar, os concorrentes, Remo, Novorizontino e Criciúma, todos pontuaram, e na rodada ainda teria um Goiás e Chapecoense, com os dois verdões à frente na tabela, e, dando no que desse, tudo ficaria mais dramático.

Mas o único verdão de quem o time da Baixada quer saber é seu arquirrival, e por isso, não tendo outra opção, foi para cima com Couto Pereira lotado e tudo. E quase foi premiado logo no primeiro minuto, após presepada de Pedro Morisco.

E depois da expulsão boba de Bruno Melo, logo com 25’ de jogo, aí é que o Furacão se assanhou de vez, enquanto o Coxa já começava a pensar que um ponto são os novos três.

Os personagens, o de sempre: Viveros, Dudu e Zapelli pelo lado vermelho e preto, Josué e Sebas Gómez pelo verde e branco.

Mas a efetividade ainda passava longe, e o placar fechado do primeiro tempo frustrou os dois lados.

Do intervalo, com medo de que o contestado ataque coxa-branca desafinasse a sinfonia, Mozart voltou sem Gustavo Coutinho e com o habilidoso Lucas Ronier, ainda não 100%, mas de quem 50% já seriam suficientes, afinal, como dizem, em terra de coxo, perneta é rei.

Também apelando para o talento e para a ofensividade, Odair Hellmann, para não azedar a maionese do Furacão, veio com Leozinho na do lateral-esquerdo Léo Dérik.

Empurrando a defesa do rival, o Athletico era melhor e chegou a viver a expectativa de um pênalti de Jacy em Viveros, que Daronco foi verificar no vídeo e, com base nele, retirou, enxergando falta do colombiano na origem.

Ataque contra defesa sem grandes emoções, o jogo era narrado por seus treinadores.

Mozart, tranquilo, só queria saber de fechar a casinha, sacando Iury Castilho para repor a lateral-esquerda com Zeca e trocando o criativo Josué pelo pegador Vini Paulista. 

Odair foi atirar dos dois lados, eliminando Patrick e Benavidez por outros dois atacantes, Velasco e Luis Fernando. E, se atirou, por outro lado foi atingido, não pelo adversário em campo, mas por um torcedor alviverde, que jogou um cigarro eletrônico direto no cocuruto do Papito.

Ironicamente, as substituições do Athletico melhoraram o Coritiba no jogo, que passou a administrar as ações com maior facilidade e até dar as suas estocadas vez ou outra, no melhor modo se achar um gol, achou.

Mais um atacante no rubro-negro: Alan Kardec, no lugar de outro, Julimar, ineficaz nos 85 minutos em que esteve em campo. No Coxa, um volante por outro, Machado por De Pena, para cadenciar.

E se a pilha de atacantes athleticanos, na teoria, serviria para uma blitz no final, na prática quem terminou a partida pressionando foi o lado coxa-branca, que teria um escanteio ao fim do jogo, mas Daronco, pontual, resolveu dar o assopro final no apito, decretando o já cantado 0 a 0.

Se fosse para definir em uma frase, como se pedia nos tempos remotos da Rádio Globo, seria: um time que não sabia atacar contra outro que não quis atacar, e, se o quisesse, provavelmente não o saberia também.

Para o Coxa, bom pela circunstância, adequado pela tabela, ruim pela oportunidade perdida de vencer o arquirrival.

Para o Furacão, péssimo pelos três.

O Coritiba não matou e o Athletico não morreu. Mas, se bobear…

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Mirassol 3×0 São Paulo – Brasileiro 2025

Emocionado com a campanha histórica do Mirassol, confesso, estive também cético até rodadas atrás.

O elenco mais barato da Série A, montado artesanalmente em meio ao torra-torra das SAFs, num campeonato de 38 jogos, vai aguentar até quando?

Bem, pelo menos para mim, a desconfiança acabou depois da sequência recente. Sempre jogando no Maião, seu alçapão, o Leão bateu Fluminense, Internacional e precisou de apenas um minuto para abrir o placar contra o São Paulo.

Sempre num cruzamento, quase sempre pela esquerda, e, quando assim, sempre com Reinaldo, dessa vez para Alesson, elemento-surpresa, de frente e livre no miolo da área, mergulhar e mandar às redes o gol mais rápido do Campeonato.

O carrossel do interior paulista joga com a precisão de um relógio suíço, analogia que muito foi usada para descrever o grande time do Bayer Leverkusen, campeão lá na Alemanha há duas temporadas.

Todas as defesas do campeonato já enfrentaram o Mirassol ao menos uma vez, mas, quando vem essa jogada lateral, simplesmente ninguém pega.

E se pelo lado Tricolor faltava este nível de coletividade, o negócio foi tentar no talento individual, com Lucas Moura, que viu Walter adiantado e tentou o gol que Pelé não fez (e agora ele também não).

Quem jogava mesmo era o time da casa, botando Rafael para trabalhar sem dó. E depois de um agarra-agarra dentro da área entre Enzo Díaz e Carlos Eduardo, o VAR viu falta do argentino, e Reinaldo, o craque-da-galera do Brasileirão, foi lá e conferiu: 2 a 0 Mirassol.

Já são 11 gols na conta do lateral no campeonato, e nem todos de pênalti, como seria de se pensar. O Inter sabe bem…

Mas o artilheiro e capitão também é solidário com a marca da cal. Após novo pênalti, já no segundo tempo, o “Kingnaldo” deixou para o plebeu, que já tá quase virando patrício, Carlos Eduardo, botar para a rede o terceiro.

E o São Paulo? Este, entre um e outro gol do time de amarelo, assustava esporadicamente, e, por ironia, em jogadas verticais e chuveiradas para a área, tentando fazer o rival provar do próprio veneno. Na mais perigosa delas, Marcos Antônio embicou na pequena área e Walter fez a famosa grande defesa “relativa” – aquela em que a bola vai em cima do goleiro, mas ainda assim difícil pelo tempo de reação exigido.

O ex-goleiro corintiano ainda trabalhou algumas vezes na segunda etapa, o que mostra que a exibição são-paulina pode não ter sido um desastre total, apesar do placar. O retrospecto é que preocupa, com a quarta derrota nos cinco últimos embates pelo brasileiro, em que pese a polêmica derrota no Choque-Rei, há duas semanas.

A verdade é que o São Paulo parece ainda não ter digerido as duas derrotas para a LDU e saída da Libertadores, que de repente se tornou o grande trunfo do clube em 2025.

Libertadores esta que está cada vez mais próxima, quem diria, do Mirassol. E, neste andar, não vai nem precisar passar pela incômoda fase preliminar, já que o G6 pode virar G7, ou até G8.

Talvez não precise nem se o G6 continuar apenas G6.  

Esse Mirassol…

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