Dos quatro treinadores semifinalistas da Copa do Brasil, três foram diagnosticados como “ultrapassados” num passado recente
Dorival se escreve com D, de desforra; Renato, com R, de resposta; Vanderlei, com V, de vingança;
Os sete-a-um, que esse mês completaram nove anos, marcaram o início de uma era de normalizados indecoro e descompostura na imprensa esportiva brasileira. Se antes tachar o trabalho de um profissional do futebol era considerado um enorme risco para a ética jornalística, esse risco foi posto em xeque numa nova agenda: a crítica mordaz como produção da “verdade”.
E a sombra da verdade é o trunfo de muitos. Amparando-se nela, pode-se cometer deselegâncias sem o medo do retorno. A crítica abastece o estado de espírito criado pela própria imprensa, e, portanto, quem a faz serve à razão, a um bem-maior. E se isso implicar na desmoralização, muitas vezes eterna, de alguém? Paciência.
Vanderlei Luxemburgo, Renato Portaluppi e Dorival Júnior: três treinadores brasileiros, vitoriosos. Os três têm em comum também o olhar enviesado de parte dos integrantes de mesas-redondas, inebriados pelas promessas de salvação do futebol nacional através do estrangeirismo e das “new ideas”.
Os três comandantes compartilham características em campo, sobretudo o ataque funcional, ou jogo aproximado. Sistema que, apesar de clássico nacional, é grandemente complexo. Não é coincidência que a estes profissionais seja creditado o apelido de “Professor Pardal”, personagem que experimentava, sem medo, as formas de se produzir conhecimento.
Para algumas vozes da consciência, deve-se fazer o básico pensando em ganhar, sem inventar. Diferente disso, no país recolonizado, é devaneio sem valor – e olha que teve gente aí que levantou taças em um passado (bem) recente…
De qualquer modo, eles são três dos quatro treinadores ainda vivos na Copa do Brasil, mata-mata mais importante do país.
Luxa, que já estava, de fato, aposentado, voltou a trabalhar no que ama e levou o Corinthians para as semis.
Renato reatou o casamento com o amor da vida, o Grêmio.
Dorival juntou-se ao São Paulo, numa reunião de desacreditados, e também carimbou vaga.
A outra equipe é o Flamengo, onde os dois últimos entregaram os melhores trabalhos pós-Jorge Jesus, e, ainda assim, saíram mal falados nas mesas-redondas, que, por sua vez, se empolgaram com Paulo Sousa, Vítor Pereira e anuem o desempenho nada excepcional do atual comandante, Jorge Sampaoli.
A única redenção possível do humilhado, especialmente quando está em desvantagem política, é provar que o estado-da-verdade não é, de fato, a verdade do mundo, e sim apenas um mascaramento ideológico dele.
E isso os ultrapassados vêm fazendo ano após ano.
Logo, todo mundo irá querer ser igual ao pardal.
E não haverá verdade que aguente…