Não assisti ao jogo, mas as ruas de Belo Horizonte me fizeram viver a vitória do Cruzeiro sem precisar ir ao Mineirão ou ligar a TV. Estudo a poucos metros do estádio, e após uma quinta-feira noturna de aula, dei um pulo no bar ao lado para celebrar a vitória do meu time, que venceu a muitos quilometros de onde estudo. A rua estava tomada pelos torcedores também alunos, e foi ali que minha atenção foi roubada pelo azul.
A rapaziada de azul só falava em Matheus Pereira. Marcou de cabeça e deu o passe pro gol da vitória, que craque. A torcida celeste merecia um motivo de alegria há um bom tempo. Matheus é esse motivo. Meio esguio, espichado, de pernas soltas, o camisa 10 transforma esse aparente desleixo em capricho quando tem a bola. Vem marcando o imaginário do torcedor a cada entrada nos gramados do Mineirão, pintando as jogadas de azul.
Acabei dormindo perto da faculdade, já emendando na aula de amanhã. Às vezes acontece. Tonteado pela cerveja de ontem, enfrentei a caminhada e a obrigação. Os corredores ficam meio vazios nas sextas-feiras, mas se via um ou outro vulto azul. No caderno, a cor da tinta sobressaia. Na fileira ao lado, a colega cruzeirense esbanjava o uniforme. Tudo azul.
A volta para casa foi como estar entre o céu e o mar. Peguei o ônibus azul e escorei na janela, com o sol e Matheus Pereira na cabeça. Camisas celestes por toda a parte, durante toda a longa trajetória que cruza o centro da capital mineira. Nem me propus a contar, era tudo um grande azul. As placas em cada esquina compunham a paisagem, especialmente na da Augusto de Lima com a São Paulo. O gritante beiral azul na fachada do prédio se estendia até o chão pelas paredes da lotérica e o letreiro da ótica. Tudo azul.
Matheus Pereira faz de Belo Horizonte uma cidade azul.
Fotos tiradas por mim
Coisas que a gente se esquece de dizer
“O Trem Azul”, Lô Borgers
Frases que o vento vem às vezes me lembrar
Coisas que ficaram muito tempo por dizer
Na canção do vento não se cansam de voar