Em 1969, Milan e Estudiantes disputavam o mundial de clubes. Heriberto Herrera, técnico da Inter de Milão, aconselhou Osvaldo Zubeldía, técnico do Estudiantes, a imitar a estratégia dos húngaros: sobrecarregar um lado do campo com vários jogadores próximos.
Em 70, o Brasil buscava essas aproximações com um meia partindo da esquerda (Rivellino) e um ponta-de-lança da direita (Jairzinho). Era uma estratégia comum aos times sul-americanos como mostra esse relatório da FIFA sobre a Copa de 74:
A história da tática e das estratégias no futebol deve utilizar os discursos orais dos envolvidos, os documentos oficiais, mas duas fontes estão sendo negligenciadas: a) os jogos da época, que encontramos com espantosa facilidade hoje; b) análise histórica dos conceitos.
Uma primeira vista nos conceitos demostra de cara diferenças de sentido em cada cultura futebolística. Na Holanda e na Inglaterra, os jogadores são classificados por posição, termos que delimitam o espaço em campo (back, midfield, attack e right, center, left).
Enquanto isso, no Brasil, na Itália, na Argentina, os jogadores são classificados por papeis que desempenham em campo, algo quase artístico como o “ponta-de-lança”, o “falso ponta”, o “enganche”, o “regista”, o “mezzala”, o “tornante”, etc.
É evidente que as culturas não são estanques, absolutas e separadas, mas elas possuem diferentes construções de sentido. A história dos conceitos revela a história social que existe por trás da palavra, e revela essas diferenças de sentido.
Conceitos como “jogo de posição”, “ataque posicional” (que depois, com o domínio dessa metodologia, se tornou sinônimo de organização ofensivas em manuais) foram criados para expressar melhor uma cultura que se manifestava de maneira sistêmica no jogo.
O conceito solidifica a experiência para resistir ao tempo. Platão falava que nomear era uma ação, e Wittgenstein que o “significado está no uso”, ou seja, a significação é uma forma de vida.
Uma cultura futebolística brasileira, que compartilha de vários traços com outras culturas como a argentina, pode ser ampla e facilmente percebida em todas as quatro fontes que citei. Com suas variedades e variações, há uma “forma de vida” presente no estilo do jogo.
O nome que dei para essa “forma de vida” foi ataque funcional para destacar essa experiência linguística de classificar os jogadores por funções, papeis, movimentos em cena quase como atores em campo, e não por uma delimitação espacial.
Muitos não leram e não gostaram. Outros não entenderam. Mas o que está oculto e precisa ser desvelado é que por trás de cada conceito existe uma história