RELATOS DE UMA BATALHA FAMILIAR – BRASIL x HUNGRIA, COPA DO MUNDO DE 1954

O que se diz, o que se faz num encontro familiar? As reações podem divergir. Algumas delas, no entanto, são ferozes, brutais, bestiais. É nisso que se pensa quando lemos a expressão “Batalha de Berna”, relativa ao lendário embate entre brasileiros e húngaros pelas quartas de final da Copa do Mundo de 1954. Na realidade, porção considerável da partida que leva sua alcunha fora cortês e bem jogada, apesar de dura e polêmica. As cenas lamentáveis — que de certa forma lavaram a alma brasileira com a intensa chuva daquela tarde — tiveram lugar no último terço de jogo e, principalmente, após o último apito de Arthur Ellis, que teve sua atuação criticada pela imprensa brasileira e internacional (logo veremos o porquê). A derrota canarinho, mesmo com capitais equívocos por parte da arbitragem, não foi inesperada. Não houve o choque e o senso de descrença de 1950; e não poderia ter. Afinal, não estávamos lidando com o subestimado Uruguai de Ghiggia, mas sim com a mais avassaladora seleção de todos os tempos: a Hungria.

Primeiro, faz-se necessário um esclarecimento: o que existe de “familiar” entre as duas equipes? O mais assíduo leitor do Ponto Futuro, a esta altura, talvez já saiba. As identidades de jogo de húngaros e brasileiros estão, de certo modo, interligadas. A influência húngara no Brasil, apesar de superestimada — Dori Kruschner e Béla Guttmann costumam levar louros excessivos por supostas invenções —, existiu. Mais importante que isso, porém, é que a história futebolística de ambos converge num mesmo ponto. O short-passing game inglês e escocês exerceu inegável inspiração para o futebol brasileiro e Jimmy Hogan, lendário nômade do futebol pré Segunda Guerra Mundial e advogado do futebol de combinações curtas, ativamente deixou sua digital na construção da identidade húngara (e austríaca) de se praticar o esporte, que viria a ser conhecida como o jogo danubiano.

Joaquim Prado, ex-atleta do Paulistano, relata como John Hamilton, que havia deixado o Fulham (bastião de jogo de combinações curtas na Inglaterra do início do século XX e onde treinou Jimmy Hogan) para treinar o clube paulista ainda em 1907, instituiu o short-passing game na equipe, fundando a consagrada “escola paulista”, que se tornaria muito influente na construção da identidade brasileira de jogo. Correio Paulistano, 08/12/1943.
Jogadores húngaros ouvindo a explicação de Jimmy Hogan, no centro. “Nós jogamos futebol como Jimmy Hogan nos ensinou”, disse Gusztáv Sebes, o técnico da geração de ouro da Hungria dos anos 1950. “Quando a história do nosso futebol for contada, o nome dele deve ser escrito em letras douradas”. Imagem: 8 Órai Újság.

É fundamental contextualizar a situação em que as duas equipes se encontravam naquela altura do campeonato. O Brasil, apesar de ter conseguido bons resultados nas eliminatórias e uma ótima estreia no Mundial contra o México (saiu vitorioso por 5×0), empatou com a Iugoslávia em 1×1 antes da partida contra os húngaros. Mais importante que isso, talvez, era a geração em si. Ademir e Zizinho não foram convocados — este último por divergências políticas e econômicas com a CBD —, e o país vivia uma espécie de entressafra de craques. Alguns nomes, claro, estavam entre os melhores que já produzimos (Nilton Santos, Djalma Santos, Bauer, Didi e Julinho Botelho), mas outras posições eram mais carentes do que nos acostumamos a ver em mundiais seguintes.

A Hungria, por outro lado, vivia seu ápice histórico. Engana-se, porém, que se tratava de um ponto totalmente fora da curva do futebol húngaro. Os magiares, até aquele momento, eram vistos como tradicionalíssimos Europa afora, produzindo craques históricos num volume praticamente inigualável em todo planeta (Schlosser, Schaffer, Orth, Braun, Sárosi, Deak, Puskás, Kubala, Kocsis e muitos outros). Em 1954, tudo levava a crer que o país teria, finalmente, sua máxima consagração. Liderados por Puskás dentro da cancha e por Sebes fora dela, o consenso colocava a Hungria como time a ser batido. Na partida que nos interessa, mesmo a ausência de Puskás, lesionado, não impediu que os mágicos magiares fossem amplamente apontados como favoritos no confronto contra o Brasil. Vamos às particularidades do jogo.

Brasil alinhado para a Batalha de Berna. Foto: Reprodução/CBF.

Como já dito, os húngaros chegaram para a partida sem Ferenc Puskás, seu máximo craque. Apesar disso, a estrutura geral da equipe era mantida. Atuando num 4-2-4, o esquadrão tinha em Puskás uma espécie de ponta-de-lança, atuando atrás de Kocsis, a referência avançada magiar. Em seu lugar, entrou József Tóth (por fins de conveniência, será Tóth I; o ponta-esquerda Mihály, que não era seu irmão, será Tóth II). Tóth I entrou como ponta-direita, com Czibor, que ocupava essa posição anteriormente, atuando na região deixada por Puskás. O 4-2-4 era incomum no contexto do futebol mundial, com exceção do Brasil — algo que explico aqui —, que passava pela transição da Diagonal para o jogo com dois meias e quatro avantes. No restante da Europa, porém, o WM ainda reinava. Os húngaros promoveram o shift de um esquema para o outro a partir de nomes como Béla Guttmann, Márton Bukovi e o próprio Sebes, recuando um atacante para o meio e um meio-campista para uma região mais próxima da defesa.

No contexto da Hungria de 1954, os protagonistas dessa mudança dentro de campo foram Hidegkuti e Zakariás. O primeiro, camisa 9 de origem, descia tão profunda e frequentemente para a faixa central da cancha que se tornava, de fato, um meio-campista; o segundo recuava e auxiliava Lóránt na primeira linha de retaguarda. Outro fenômeno interessante é a área de atuação de Tóth II, que compreendia quase toda a faixa lateral esquerda do campo. Com bola, um legítimo ponta ao pé natural, carregando a bola até os limites da linha de fundo adversária. Sem ela, um meia-central pela esquerda muito prestativo na fase defensiva. Mostrarei boa parte desses conceitos com imagens da partida. Sendo assim, podemos resumir a Hungria que enfrentou a Seleção Brasileira como praticante de um 4-2-4 com bola e de uma espécie de 4-3-3 ou até 5-2-3 sem ela.

Seleção húngara que veio a campo contra o Brasil na Copa do Mundo de 1954.

O Brasil não ficava atrás em termos de complexidade tática. Repito: estávamos num período de transição de esquemas no futebol brasileiro. É um recorte espaço-temporal muito fértil, muito rico. Da Diagonal, uma variação à brasileira do WM, caminhávamos para uma hegemonia do 4-2-4, num processo orgânico. Zezé Moreira, um dos maiores treinadores brasileiros de todos os tempos, foi também um precursor, um inovador: foi, provavelmente, o primeiro homem a aplicar marcação por zona de forma frequente e consciente no Brasil. Além disso, atuava muitas vezes num 3-3-4, o que vemos na Seleção da partida aqui discutida. Nilton Santos e Djalma Santos eram defensores abertos, ao passo que Pinheiro se posicionava como zagueiro central. Bauer e Brandãozinho se localizavam logo à frente dessa linha de três e Didi, mais avançado, fechava a trinca central, sendo responsável pela conexão entre meio e ataque. Mais avançados, temos Julinho, Índio, Humberto e Maurinho. Julinho, o craque ofensivo daquela Seleção, tinha as funções clássicas de um ponta ao pé natural do período. Índio, um centroavante mais leve, substituía Baltazar, histórico centroavante corinthiano, por decisão técnica de Zezé. Humberto, substituindo Pinga, atuava como ponta-de-lança ou um meia-atacante. Maurinho — que substituía Rodrigues, também por opção técnica de Zezé —, por outro lado, tinha função similar à de Toth I: ponta-esquerda de fato com bola e um homem a mais no meio-campo em fase defensiva sem ela. 

Escalação brasileira para enfrentar os húngaros.

Arthur Ellis apita e começa a partida (parcialmente disponível aqui). Logo surge uma avalanche grená frente à retaguarda brasileira. A blitz húngara não se reduz às intensas investidas quando com bola, compreendendo, também, uma brutal pressão no portador logo na saída de bola adversária. Linhas avançadas, bloco alto compacto… afinal, “tudo já estava inventado no futebol em 1945”

Djalma Santos, numa rara ocasião em que se encontrava pela esquerda, sendo fortemente pressionado pelo atacante húngaro. É possível ver outro magiar ainda mais avançado, beirando a pequena área brasileira.

As intensas investidas tiveram resultado. Numa falha de Pinheiro dentro da área, após um bate e rebate, a bola sobrou para Hidegkuti, o falso 9 húngaro, que abriu o marcador. Logo em seguida, em nova pane de Pinheiro, Kocsis aproveitou o espaço nas costas do zagueiro brasileiro, cabeceando direto para a meta de Castilho. É possível que, marcando por zona, Pinheiro não estivesse perfeitamente atento aos movimentos do avançado húngaro fora de seu campo de visão, o que habilitou Kocsis a romper e atacar o espaço entre Djalma Santos e zagueiro do Fluminense. 2 a 0 com sete minutos do primeiro tempo e uma enorme montanha a escalar.

O momento em que Hidegkuti arma o petardo para inaugurar o placar.
Kocsis, o “cabeza de oro”, absolutamente livre para ampliar a vantagem húngara.

As perseguições, os encaixes e a elevada rotação do scratch húngaro incomodavam constantemente a equipe brasileira, algo que Zezé Moreira já parecia imaginar antes do confronto. Talvez prevendo um jogo menos controlado e mais transicional, o treinador optou por um ataque mais leve ao retirar Baltazar, Pinga e Rodrigues, dando lugar a Índio, Humberto e Maurinho. Apesar dos dois gols levados logo no início da peleja, é possível dizer que, até certo ponto, foi uma estratégia bem feita. O Brasil ocasionalmente escapava — em especial no segundo tempo — com seus pontas mais agudos e conseguiu criar chances de gol.

Sem a bola, como já dissemos, as abordagens húngara e brasileira apresentaram semelhanças e diferenças entre si. De ambos os lados, vimos tentativas de espelhar o adversário, apesar dos métodos distintos utilizados por cada equipe: o Brasil empregou sua costumeira defesa zonal de Zezé, ao passo que a Hungria adotou uma abordagem individual. Com os pontas-esquerdos retornando na fase defensiva, fica claro que tanto Sebes quanto Zezé Moreira se prepararam cuidadosamente para o confronto.

Duas imagens que, somadas, representam a abordagem sem bola do Brasil. Bauer, que aparece apenas no segundo recorte, forma uma linha de quatro com Maurinho (o ponta de recomposição), Didi e Brandãozinho, mostrados na primeira imagem juntos. Nilton Santos, Pinheiro e Djalma apresentam-se em linha de três, o que gera, no fim, uma espécie de 3-4-3.

Com 2 a 0 contra, fazia-se necessário que o Brasil se arriscasse. Apostando ainda mais nas transições, o segundo gol surge de uma investida de Índio por dentro, derrubado na área por Lóránt. Djalma Santos converteu a cobrança, diminuindo o placar. A partir daí, o jogo tornou-se de trocação; sem chances claríssimas para cada lado, mas com investidas perigosas que eletrizaram o estádio Wankdorf, o marcador não sofreria mais alterações na primeira etapa. 

Tratava-se, talvez, do melhor jogo de futebol daquela Copa até então. Os gols relâmpago dos magiares anunciavam mais um atropelo, mas a técnica brasileira e a estratégia de Zezé equilibraram a partida. Nossa abordagem, inclusive, forçou a Hungria a atuar de forma diferente da qual estava acostumada. No lugar de um jogo de combinações por dentro, focado em tabelas, escadinhas, diagonais e ultrapassagens, os húngaros exploraram mais os extremos, já que o Brasil preenchia o meio com quatro atletas e formava sua última linha apenas com Nilton, Pinheiro e Djalma. Mesmo assim, a soberba qualidade do esquadrão de Sebes e Kocsis com bola ainda era dominante, sufocando e acuando o onze canarinho quando em fase ofensiva. Dois gols para um lado e um para o outro; fim do primeiro período.

No segundo tempo, a tônica da partida não mudou. Brasileiros e húngaros continuavam a explorar as limitadas debilidades de cada lado, mas não havia um amontoado de oportunidades clarividentes de gol para nenhuma equipe. Além disso, alguns conceitos aqui já abordados ficaram mais explícitos de se observarem na etapa complementar: Hidegkuti, como sempre, descendo para o meio-campo, evidenciando seu papel como falso 9; e Tóth II acompanhando Julinho até os limites das quatro linhas se necessário, muitas vezes se tornando um quinto homem de defesa.

Hidegkuti, destacado pelo círculo vermelho, exercendo sua célebre função na Hungria de Sebes: a do falso nove.
Vemos claramente como Tóth II recuava de forma quase que absoluta em fase defensiva; sua preocupação com Julinho era mais que justificada, como veremos a seguir.

Aos 15 minutos do segundo tempo, após boa jogada de Tóth II no flanco esquerdo, Czibor e Pinheiro disputavam a pelota dentro da área normalmente até que, por algum motivo desconhecido, Arthur Ellis marcou penalidade máxima para os húngaros. Revendo o lance múltiplas vezes, com o perdão da baixa qualidade da imagem, é realmente difícil encontrar algum elemento que justifique a marcação; jornais Brasil afora, à época, também não concordaram com o árbitro inglês. De qualquer forma, Lantos não desperdiçou a cobrança e aumentou a vantagem magiar. 3 a 1 no placar e, a partir desse ponto, os ânimos não se acalmariam até o fim do dia.

Porém, Julinho Botelho, dos maiores pontas-direitas da história do futebol brasileiro, não venderia o resultado tão facilmente. O atleta da Portuguesa era o mais virtuoso do ataque verde e amarelo, além de ser o melhor de sua equipe em campo naquela tarde. Sua potência e capacidade de mudança de direção, somadas à sua habilidade de flutuar interiormente mesmo partindo do pé natural, assombraram a retaguarda húngara durante toda a partida. Cinco minutos após o tento adversário, o ponteiro brasileiro cortou para dentro, ajeitou o corpo e marcou um golaço, indefensável mesmo para o ótimo Grosics; nem a recomposição total de Tóth II foi capaz de parar a investida de Julinho.

Momento exato em que a bola sai dos pés de Julinho para encontrar as redes húngaras. 3 a 2.

A abordagem brasileira após o segundo gol foi a mesma. Julinho continuou sendo acionado com frequência, criando múltiplas jogadas de perigo para a Seleção, incluindo um lance que começa com ele e termina com Humberto retumbantemente acertando a trave de Grosics, que nada poderia fazer para pará-la. Aos 26 minutos, porém, os nervos já saltados entre as duas equipes resultaram em uma dupla expulsão: Nilton Santos e Bozsik desferiram golpes um contra o outro, obrigando Arthur Ellis a retirá-los permanentemente de campo (os cartões não haviam sido introduzidos àquela altura no futebol).
O Brasil ainda criou mais chances, mas tudo levava a crer que aquela tarde não terminaria feliz para a Seleção. Todos os esforços foram infrutíferos. A frustração foi tanta que, quando o relógio apontava 34 minutos de etapa complementar, Humberto deu um pontapé em Buzánszky e, claro, foi expulso. A pá de cal veio no minuto 42 e pelo ar, mas começando pelo chão. Após ótima construção desde trás, Kocsis aproveitou um bom cruzamento da direita para cabecear nas redes de Castilho, marcando seu segundo gol e carimbando o passaporte magiar para a semifinal da Copa do Mundo.

Mesmo com os três expulsos, acredite: as brigas violentas não foram o principal motivo pelo qual essa lendária partida ficou conhecida como “Batalha de Berna”. Com 4 a 2 no placar e dado o apito final do Sr. Ellis, o sentimento de revolta dos brasileiros — desde a comissão técnica e os jogadores até a torcida — eclodiu. A chuva torrencial que caía sobre os jogadores não foi suficiente para que suas frustrações fossem levadas embora com ela. Pinheiro, supostamente provocado por Puskás, revidou violentamente, gerando uma verdadeira batalha na cancha. Zezé Moreira arremessou chuteiras, Maurinho não poupou cusparadas e outros membros da delegação da CBD não fizeram nenhum esforço para que a briga fosse apartada. Bauer, como capitão da equipe, foi um dos responsáveis por evitar que a situação se agravasse. A familiaridade histórico-cultural entre o futebol das duas nações não impediu a pugna de se desenvolver deploravelmente. Djalma Santos, posteriormente, deu sua versão da confusão:

A confusão aconteceu por conta de um mal entendido. As entradas pros dois vestiários ficavam uma do lado da outra. Os dois times estavam deixando o campo após o jogo e o Newton Paes, médico do Brasil, pegou uma garrafa de água. Naquele tempo era garrafa de vidro, não de plástico, como as de hoje. Aí ele pegou a garrafa e jogou no Puskás. Só que ele errou e acertou o (zagueiro) Pinheiro. Pegou na testa dele e, quando o Pinheiro se virou para ver quem havia arremessado, alguém gritou: “foi o Puskás!”. Aí começou a confusão.” – Djalma Santos

E, assim, o Brasil se despediu da Copa do Mundo de 1954.

Cenas lamentáveis em Berna! Foto: Reprodução/CBF.

As narrativas da derrota, como sempre, assolaram o debate esportivo pelos meses seguintes à partida. Os erros de Mr. Ellis, como ficou conhecido por aqui, transformaram-no em vilão nacional; jornais daqui esvaziaram o conteúdo da partida e deram total protagonismo ao árbitro. Apesar disso — reconhecendo, claro, que fomos prejudicados no apito —, a derrota teve outros elementos mais importantes. Mesmo com uma boa estratégia visando o contexto da partida, a Hungria demonstrou sua superioridade durante os noventa minutos. A blitz inicial, a neutralização de boa parte dos elementos positivos do scratch brasileiro e a quase incomparável conexão de seus craques, interligados pela pelota, mantiveram os húngaros sempre pelo menos um passo e um gol à frente. A origem da identidade futebolística dos dois países convergia num mesmo ponto, mas isso não significa que sua evolução traria resultados semelhantes, pelo menos não naquele momento. 
Os mágicos magiares chegariam à final do Mundial, mas não levariam o título; a Alemanha, destruidora de grandes esquadrões, eternizaria um dos mais surpreendentes episódios da história do futebol ao derrotar os húngaros por 3 a 2 e levantar a taça Jules Rimet.

Assim, o que ocorreu após o apito final foi um reflexo violento de uma frustração que havia se acumulado não apenas a partir do que houve durante aquela partida, mas também pelas derrotas de 1938 e, especialmente, de 1950: nada era suficiente; o esforço, a técnica e a estratégia sempre encontravam uma insuperável barreira, seja ela qual fosse. A nossa nada venerável atitude deu a impressão de que toda a angústia, todas as dores e feridas mal cicatrizadas da Seleção Brasileira foram expostas ao mundo; e a chuva levava consigo o dissabor, forçando-nos a seguir em frente, do zero. O resultado? Veríamos-no quatro anos depois.

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