Várias vezes escutei que o futebol brasileiro não se preocupava com a organização ofensiva, pois dependia da inspiração e da liberdade. Uma espécie de “fazes o que tu queres”. Com o tempo, descobri que era ignorância e pretensão. A primeira por não se interessar pelo passado. A segunda por não respeitar os artistas e os técnicos que construíram a nossa história.
Às vezes, os jovens querem respostas prontas e caminhos já traçados e que precisam apenas serem reproduzidos. Incorporam verdades e métodos hegemônicos e fecham a sensibilidade para o que é diferente do paradigma que acolheram. Para entender o espírito da organização ofensiva que foi hegemônica por décadas no futebol brasileiro, é preciso estar disposto a pensar e a duvidar.
A organização ofensiva do jogo que ficou reconhecido como “brasileiro” não era dada por uma pré-determinação rígida dos espaços, alongando os jogadores em zonas ofensivas. Era mais uma organização do movimento dos jogadores.
“Na Bôca do Túnel” é um livro clássico sobre a tática no futebol brasileiro dos anos 1960. João Saldanha escreveu a sua apresentação. O “João sem medo” é lapidar sobre o futebol do seu tempo: “Antes, quando um jogador invadia a posição de outro companheiro, levava logo uma bronca: “Cai fora, aqui você atrapalha. Vá para sua posição”. E o treinador apoiava esta réplica. Um jogador que disser isto hoje não merece entrar no campo”.
Defendo que o estilo do futebol brasileiro como encantou o mundo (“o jogo bonito”) foi se formando na década de 1960, ganhou identidade nos anos 70 e 80, e viveu a sua maturidade nos anos 90. Na apresentação, Saldanha está falando de um dos aspectos mais importantes do estilo brasileiro: invadir a posição do companheiro significa aproximar-se.
É óbvio que todas as propostas de jogo sempre existiram no Brasil, mas o que ficou conhecido como o “futebol brasileiro” de tão admirado no exterior era um jogo de aproximação, com grande deleite de habilidade, criatividade, técnica e autenticidade.
Dizer que o futebol brasileiro atacava buscando a aproximação para tabelar e progredir em campo não significa dizer que todos iam em direção à bola e isso resumia tudo. Não é verdade. O movimento era tido como a coisa mais importante do jogo. Então, era preciso organizar os movimentos, sincroniza-los, dar um parâmetro para que os jogadores interpretassem e criassem suas ações.
Para organizar o movimento, surgiu a ideia de função. O Brasil não foi pioneiro nesse futebol móvel e de aproximação. O judeu húngaro Dori Kürschner foi treinado por Jimmy Hogan — mítica figura que teria espalhado o jogo móvel pelo Danúbio — no MTK de Budapeste. Fugindo do antissemitismo crescente na Europa (a Hungria seria uma aliada do Eixo a partir de 1941), Dori veio ao Rio de Janeiro e treinou o Flamengo e o Botafogo. No Flamengo, Flávio Costa foi o seu auxiliar. Muito já foi escrito sobre as contribuições de Flávio Costa, técnico do Brasil na Copa de 50, na formação do jogo brasileiro com as diagonais defensivas e ofensivas. Outro húngaro que passou por nosso futebol foi Béla Guttmann no São Paulo. O seu assistente era Vicente Feola, técnico do Brasil na Copa de 58 e que adotava um 424 dinâmico, flexível e com funções específicas para cada jogador.
O futebol brasileiro incorpora a sabedoria do leste europeu e constrói a sua própria identidade. Por isso, para organizar o movimento ofensivo dos jogadores, adotava-se a ideia de função (daí porque chamo esse tipo de organização de “ataque funcional”). Exemplos: a) O lateral do lado da bola avança pelo corredor, o do lado oposto fecha por dentro e faz a diagonal defensiva; b) um volante fica mais posicionado na origem da jogada, o outro infiltra no espaço vazio; c) o falso-ponta recua para defender por dentro e ataca como terceiro meia; etc. Essas funções davam uma organização ofensiva básica para o jogador interpretar quais movimentos deveria adotar.
No entanto, a organização do movimento não se limitava apenas a sua função. Era preciso também estabelecer uma série de interpretações para fazer a equipe progredir em campo. A aproximação era o primeiro passo. O segundo era a compreensão do espaço vazio. Deslocar-se em campo para se aproximar do companheiro e dar um apoio ao homem da bola, criava uma assimetria tática no time e, ao mesmo tempo, estabelecia um espaço vazio. É preciso que um terceiro homem entenda onde se encontra esse espaço vazio, para infiltrar e receber a bola no “ponto futuro”. A aproximação precisa da mobilidade para funcionar.
Na tradição oral, encontramos várias explicações de Zagallo, Carpegiani, Coutinho, Gerson, Zico, Rivellino, sobre a importância da tabela: a) estou com a bola; b) o companheiro se aproxima de mim e se desmarca para receber; c) eu passo a bola e vou adiante, buscando o espaço vazio para receber de volta e a recebo; d) um terceiro jogador também já se desmarca buscando o espaço vazio para me dar uma opção de passe curto; e) um quarto jogador se desmarca buscando um passe mais longo por trás da defesa. Um futebol baseado em chegar e não estar; na organização dos movimentos e não da localização numa zona específica. Esse jogo que herdamos — por afinidades culturais — do leste europeu, da Baviera, e do sul da Europa, e comungamos com o cone-sul da América. Cada qual mantendo as suas particularidades. Na Argentina, é a famosa fórmula do “toco y me voy”.
Neste sentido, o grande desafio dos treinadores mais filiados a essa tradição hegemônica no Brasil era encontrar maneiras e métodos para organizar esses movimentos. Na concepção, não existiam tantos segredos: um atacante dá apoio na bola, o outro tem que buscar a ruptura; um meia dá apoio curto na bola, o outro tem que se projetar para receber numa diagonal ofensiva longa. De tal modo que a equipe iria variando os desmarques em altura e sentido. O jogador da diagonal ofensiva longa também garantia a possibilidade de inversão da jogada com um companheiro entrando de surpresa no lado oposto. Executar bem, encontrar a sincronia dos movimentos, o entrosamento entre os jogadores, a compreensão dos movimentos, sempre foi o maior desafio metodológico.
Esse futebol brasileiro sempre foi a minha grande paixão, pois redimiu o jogo do Danubio e o tornou na maior arte já produzida através do futebol.
Numa bela segunda-feira de um “carnaval que não há”, um amigo me avisa de um livro publicado em 2020 e intitulado El Juego de Aproximación do técnico espanhol, Adrián Cervera García, que dirige o UD San Pedro. O meu interesse foi imediato. Arrumei rapidamente na Amazon e o li imediatamente por toda noite.
Na epitome, Cervera já mostra de cara a sua tese: o jogo de posição se adaptou muito bem a um futebol onde as defesas ficavam muito próximas ao próprio gol. A partir dos mecanismos posicionais, o sistema defensivo ia se desequilibrando até que o espaço era encontrado. Mas, no futebol de pressão alta, tudo mudou. Cervera lança a pergunta: não é hora de mudar de paradigma? Ao invés de ampliar as distâncias nas relações (sociedades) entre os jogadores, talvez fosse melhor aproximá-los. Tal como Saldanha em 1968 anunciava uma mudança de paradigma definitiva no jogo brasileiro de então: ao invés de cada jogador na sua posição, era preciso aproximar-se para criar melhores interações que garantam a progressão ofensiva em campo.
Cervera reflete que o domínio do jogo de posição contra defesas em bloco baixo alterou os princípios defensivos do jogo. Os sistemas defensivos tornaram-se mais ativos (“atacar sem a bola”), com uso do bloco alto por maior período de tempo e com referências cada vez mais nominais. Por causa disso, o espaço do jogo tornou-se mais dinâmico e caótico. Afirma Cervera: “Los sistemas defensivos hostigantes son tendentes al desorden (Entropía) y deben estar reconfigurándose constantemente a media que los oponentes logran ir superando el asedio y liberando jugadores al superar los acosos”.
Os novos princípios defensivos do jogo trazem novos desafios para as organizações ofensivas. Cervera reflete sobre os limites do jogo de posição para essa tarefa:
“El Juego de Posición establece una serie de parámetros que nos conducen a una estructura bastante fija, viviendo en la idea de viajar juntos, separarse para estirar, y ubicar ciertos jugadores para ESTAR en determinados espacios, el equilibrio en los momentos de inestabilidad se alcanzan estableciendo una fuerte presión en los momentos de pérdida aprovechando ese posicionamiento de partida que viaja completamente inalterable, el orden se erige como pilar, pero el orden y el desorden se necesitan el uno al otro, se producen mutuamente; son conceptos antagónicos, pero, al mismo tiempo, complementarios. En ciertos casos, un poco de desorden posibilita un orden diferente y, a veces, más rico. No debemos cerrarnos a explorar nuevos caminos a través de un caos controlado. La variación y el cambio son etapas inevitables e ineludibles por las cuales debe transitar todo sistema complejo para crecer y desarrollarse. La auto-organización se erige como parte esencial de cualquier sistema complejo. Es la forma a través de la cual el sistema recupera el equilibrio, modificándose y adaptándose al entorno que lo rodea y contiene. Una condición muy especial, con suficiente orden para poder desarrollar procesos y evitar la extinción pero con una cierta dosis de desorden como para ser capaz de adaptarse a situaciones novedosas y evolucionar”.
Antes, a regra era: encurtar para defender (compactação), alongar para atacar (amplitude máxima). Entretanto, quando uma equipe quer pressionar o adversário desde a sua saída de bola, alongar a sua defesa para o espaço equivalente à metade do campo é inevitável, tendo em vista a regra do impedimento. As defesas desorganizam-se para se organizar novamente, alongam-se para serem mais efetivas na pressão do portador da bola.
Assim, talvez estivesse na hora de romper com o paradigma de alargar para atacar. Reflete Cervera sobre as dificuldades do jogo de posição para superar a pressão alta cada vez mais nominal: “Debido a la proliferación de defensas presionantes que reducen constantemente los espacios hacia delante y que incluso emparejan en duelos individuales, el Juego de Posición que busca superioridades por líneas, estirar al sistema rival y ubicar jugadores en intervalos entre jugadores y entre líneas encuentra problemas para superar este tipo de duelos ya que en muchas ocasiones las distancias de relación son excesivas, favoreciendo la basculación, y la exigencia en la calidad de los pases favorece la pérdida o al menos la basculación del rival durante la trayectoria del balón. ¿Como te ubicas en intervalos si te están marcando al hombre? ¿Si estiras tus distancias y el poseedor va a ser acosado de forma instantánea como va a conseguir relacionarse para saltar la presión?”
Como fazer para superar os novos sistemas defensivos tendo em vista que as linhas defensivas são mais caóticas, e uma distância maior entre os jogadores dificulta encontrar as zonas descobertas pela pressão? Cervera propõe que, para superar essa pressão que os novos sistemas defensivos geram no portador da bola, é preciso aproximar os jogadores. Nasce a proposta do “jogo de aproximação”. Diz Cervera: “El aumentar jugadores por dentro nos puede otorgar espacios por fuera, si me paro con balón y vienes a acosarme, con tu trayectoria generas una zona a aprovechar a tu espalda, si acumulo pases y jugadores en izquierda estaré en disposición de explotar espacios en derecha, de eso va nuestra función, ayudar al jugador a reconocer conductas, detectar posibilidades y a través de relaciones que minimicen las del rival, multiplicar capacidades”.
Na verdade, um resgate histórico da tradição daquele jogo móvel que teve tantas identidades e características diferentes entre bávaros, húngaros, checos, italianos, brasileiros, argentinos, etc. Quando o Estudiantes ia jogar contra o Milan na final do Mundial de Clubes de 1969, Osvaldo Zubeldía aconselhou-se com Heriberto Herrera, paraguaio que estava trocando a Juventus pela Inter de Milão. Herrera lhe contou que as defesas italianas sempre tinham problemas contra times húngaros e checoslovacos, pois esses times concentravam jogadores de um lado do campo e exploravam depois as zonas vazias do lado oposto. O jogo do Danubio sempre foi chegar e não estar, aproximar-se e mover-se aproveitando os espaços vazios que eram gerados pelas assimetrias.
Voltando para o “jogo de aproximação”, Cervera propõe a leitura da organização ofensiva a partir de três espaços: o espaço de intervenção, o espaço de ajuda mútua, o espaço de cooperação. O espaço de intervenção é o menor, é aquele específico entre a bola e o jogador que intervém diretamente, numa circunferência de 1–2 metros. É nessa zona que os sistemas pressionam o portador da bola e tampam as suas opções de passe. Na zona de ajuda mútua, temos o espaço entre o possuidor da bola e os jogadores que o cercam, ou seja, é o espaço onde se encontra os jogadores que possuem a chance de ajudar quem está com a bola e está sendo pressionado. O espaço de cooperação é o mais amplo, pois envolve os jogadores mais próximos do portador da bola (zona de ajuda mútua) com os jogadores mais longe da bola e que também podem ser uma opção de passe. O jogador que possui a bola pode ser visto em relação a sua equipe a partir desses três espaços de cooperação. Cervera vai mostrar a diferença do jogo de posição para o jogo de aproximação em cada uma dessas três zonas.
Na zona de intervenção, afirma Cervera sobre o jogo de posição: “El juego de posición busca como elemento primigenio superioridad numérica sobre primera línea de acoso para encontrar el ‘hombre libre’ a través de estirar las distancias de relación entre compañeros y hallar liberados en intervalos en líneas posteriores. Pero como vemos en la imagen ante equipos que realizan presión alta a intermedias, esa supuesta superioridad genera un estrés a esos primeros participantes, ya que están inmiscuidos en circulaciones ante acosos a alta intensidad muy cerca de la propia portería y es muy complejo encontrar liberados a espalda de segunda línea de acoso que están siendo controlados en proximidade”.
Como resposta para superar essa pressão, Cervera propõe o jogo de aproximação: “Juego de Aproximación no busca como leit motiv una superioridad en primera línea, de hecho puede que no sea recomendable, el objetivo es que el jugador en zona de intervención pueda reducir el estrés que provoca el acoso a alta intensidad de su oponente directo y aprovechar los espacios que éstos dejan durante su carrera de aproximación y superar su intervención, ya sea a través de una relación simple o de una pared”.
Para isso, o companheiro que está na zona de intervenção pronto para originar a primeira tabela em progressão, deve aprender a interpretar o melhor movimento. Cervera estabelece três passos: a) reconhecer-se dentro do jogo para discernir qual a minha função na interação momentânea que terei com meu companheiro, visando reconhecer as possibilidades; b) controlar o espaço horizontal antes de receber a bola, o que significa interpretar quais espaços estão sendo esvaziados e podem ser explorados para que a equipe progrida em campo a partir dali; c) oferecer continuidade depois de dar o passe. No livro, Cervera oferece a ilustração desses três momentos utilizando o Borussia Mönchengladbach. Apenas como ilustração, reproduzo a terceira (p.49):
Aproximar jogadores no “espaço de intervenção” esvazia espaços que podem ser explorados quando a pressão é superada, pois o “jogo de aproximação” gera as opções de passes e desmarques ao homem da bola e também as zonas esvaziadas para serem exploradas.
Na zona de ajuda mútua, é fundamental ter várias opções de passe que possam estabelecer paredes e dar mobilidade a equipe a partir das tabelas. Cervera lembra que, nos anos 80, a pressão também era bastante nominal (ou seja, tinha como referência o homem) e isso tornava os sistemas ofensivos bastante dinâmicos e líquidos: “Si echamos la vista al pasado, en los años 80, en campo propio muchos equipos utilizaban referencias nominales para tener siempre presencia sobre el poseedor de balón y restar espacio en zonas de ayuda mutua a potenciales receptores, además de los recursos individuales de los jugadores más desequilibrantes, los grandes equipos eran muy líquidos, dinámicos con mucha movilidad e intercambio posicional, buscaban constantes superioridades cerca del poseedor para buscar paredes y eliminar a dos defensores a la vez, atraían unidades de defensores rivales para buscar el cambio de orientación a zonas menos densas”.
Um dos objetivos da aproximação é aproveitar o espaço nas costas dos jogadores que pressionam para fazer a equipe progredir em campo.
No espaço de cooperação, a estratégia é mais global. Por ter aproximado os jogadores para sair apoiado na zona de ajuda mútua, existem muitos espaços vazios (que Cervera chama de “espaço descobertos”) para serem explorados. É fundamental a interpretação dos jogadores para infiltrarem nesses espaços. A equipe pode fazer isso somando rivais por dentro e usando o espaço por fora; atraindo jogadores para um lado do campo e atacando o espaço esvaziado do lado oposto; etc. O fundamental é conseguir tempo e espaço depois de superar a pressão do adversário no homem da bola. Atacar o espaço vazio (espaço descoberto) torna-se a consequência do jogo de aproximação. Para isso, é importar saber mudar os corredores e a orientação do ataque. Cervera utiliza essa captura do Bayern para exemplificar (p.57):
Não é à toa que boa parte dos exemplos dados pelo escritor venham de times alemães ou dirigido por alemães. O estilo da Baviera sempre foi o mais vertical dentro do jogo móvel. Numa entrevista recente para o El Pais, Dani Olmo — que jogou nas categorias de base do Barcelona — foi perguntado se o Leipzig fazia jogo de posição. Eis a sua resposta: “Aquí jugamos más juntos, intentando apoyarnos en otros jugadores para darle más velocidad al juego. Si nos abrimos no podemos jugar tan rápido como quiere el entrenador. Por eso intentamos juntarnos lo máximo posible, casi como en fútbol sala. Cuanto más reducido sea el espacio mejor porque más velocidad le damos a la circulación. Atraes más rivales pero en eso consiste estar preparado para jugar bajo presión. Si lo consigues, los espacios que se abren son más grandes y progresas con más profundidad”.
Dani Olmo resumiu em sua resposta a diferença de essência do que Cervera chama de “jogo de aproximação” para o jogo de posição. O que chamei de ataque funcional por organizar o movimento pelas funções e ganhar ordem através das aproximações com o homem da bola.
O futebol brasileiro não precisa imitar o alemão ou as novas tendências, mas compreender o que está ocorrendo no mundo pode revalorizar as suas raízes e ressignificar o seu caminho. É preciso inspirar-se no de fora para construir o seu próprio caminho com autenticidade. Foi o que fizemos a partir de Dori e Béla. Não simples imitação, mas antropofagia.
Por sorte, temos o Zico, cujo o futebol transpirava o dom da graça que possui como ser humano, e tantos outros comunicando através da tradição oral (uma fonte legítima da historiografia e do conhecimento) o passado tático do futebol brasileiro, que nos ajuda a refletir sobre o nosso passado e sobre o nosso futuro.