O dia 19 de setembro de 2023 começou com notícias que, embora já tivessem sido virtualmente anunciadas nos dias anteriores, não deixaram de sacudir o futebol alemão: Julian Nagelsmann aceitou a proposta da Federação Alemã de Futebol (Deutscher Fußball-Bund, ou DFB) e será o treinador da Seleção Alemã até (pelo menos) a Eurocopa 2024, que será disputada na Alemanha. Pela segunda vez em sua carreira, Nagelsmann terá o trabalho de substituir Hans-Dieter Flick no comando de um time, mas em um cenário bem mais conturbado e em uma herança tática bem mais ingrata que aquela que ele recebeu quando substituiu Flick no Bayern de Munique em 2021.
Uma troca de comando em uma Seleção a tão pouco tempo de um torneio relevante (estamos a menos de um ano da Eurocopa 2024) sempre levanta dúvidas: será que a DFB realmente acha que Nagelsmann é capaz de resolver os problemas que o time de Flick tinha? Por que o contrato curto, apenas até a Euro 2024? Nagelsmann não seria a opção para longo prazo dentre as outras especuladas (Van Gaal, Glasner etc.)? Será que o “fantasma Klopp” e a possibilidade, ainda que pequena, de contratá-lo depois da Euro influenciou na decisão? Mas, para mim, a pergunta mais relevante é outra e diz mais sobre o próprio treinador que sobre o cenário em que ele foi inserido: qual Nagelsmann será o treinador da Seleção Alemã?
Quando Nagelsmann despontou para o mundo do futebol como um treinador promissor no Hoffenheim, ele sempre foi muito identificado, celebrado e até criticado pela sua incrível flexibilidade tática. “Mudamos nosso sistema demais durante os jogos. Não estamos prontos para isso. Não somos robôs, somos humanos. Eu amo Julian (Nagelsmann), mas às vezes precisamos de três minutos depois de mudar o sistema, porque nem todo jogador entende ou não pode ouvi-lo por causa dos 50 mil torcedores”, disse o croata Andrej Kramarić sobre uma discussão que teve com Nagelsmann após um empate por 2 a 2 com o Borussia Mönchengladbach. Kramarić sempre disse que Nagelsmann é um dos melhores e a relação dos dois sempre foi muito boa, mas um dos problemas do treinador já se mostrava no começo de sua carreira e já incomodava os jogadores: Nagelsmann é inquieto, quer mudar detalhes o tempo todo, se sente desconfortável quando não está no controle de tudo, se sente forçado a fazer ajustes demais e acaba confundindo seus jogadores.
Em paralelo a isso, o Nagelsmann dos tempos de Hoffenheim mostrava uma forte inclinação a um jogo mais posicional, mais especificamente ao próprio Jogo de Posição. Não seria uma surpresa; ele assumiu o Hoffenheim no começo de 2016, no auge da influência de Guardiola, que ainda treinava o Bayern de Munique, sobre o jogo praticado na Alemanha. Como se não bastasse, sua formação como treinador começou quando, ainda com 20 e poucos anos, trabalhou sob o comando de Thomas Tuchel nas categorias de base do Augusburg. Alguns anos mais tarde, o próprio Pep Guardiola elogiaria o modo que Tuchel aplicou o Jogo de Posição em seu Borussia Dortmund e ainda afirmaria que, se o Jogo de Posição encontrasse futuro na Alemanha, isso fatalmente passaria por um protagonismo de Tuchel no processo.
Mas a influência posicional sempre andaria de mãos dadas à flexibilidade tática na vida do jovem treinador. No livro Pep Guardiola: a Evolução, o autor Martí Perarnau apontou que o Hoffenheim de Nagelsmann colocava em prática vários princípios do Jogo de Posição guardiolista, embora não o praticasse de forma completa, já indicando a disposição de Nagelsmann para negociar princípios e implementar em seu jogo ideias distintas de modo a torná-lo mais rico.
Apesar das alterações frequentes e inquietas, fundações táticas sólidas da filosofia futebolística de Nagelsmann já se mostravam bem claras e definidas. Seu Hoffenheim, como qualquer bom time alemão do século XXI, era uma máquina de pressionar o adversário; no entanto, o fazia de modo muito diferente em comparação a outro treinador marcante do Hoffenheim na década, Ralf Rangnick. Enquanto Rangnick, ao melhor estilo gegenpressing, buscava roubar a bola o quanto antes para pegar o adversário desorganizado e destruí-lo em contra-ataques velozes e implacáveis, Nagelsmann preferia usar a pressão para retomar a posse de bola e o controle do jogo, feliz em manter a posse e construir mais pausadamente e com mais calma. Com a bola, seu Hoffenheim partia de um 3-5-2 (ou 5-3-2) e preferia espalhar seus jogadores em campo para formar linhas de passe mais complexas e avançar de forma mais metódica e bem trabalhada. O time tinha um DNA muito ofensivo, e Nagelsmann usava a versatilidade dos alas e meio-campistas e a segurança defensiva dos três zagueiros para posicionar vários jogadores no campo de ataque: sua estrutura ofensiva muitas vezes parecia com um 3-1-6 quando os alas e meio-campistas se juntavam aos atacantes. A partir disso, o Hoffenheim tinha uma estrutura posicional, mas que se mostrava mais fluida ao rodar a bola e movimentar seus jogadores que um Jogo de Posição mais clássico e ortodoxo.
Em seu trabalho seguinte, no RB Leipzig, Nagelsmann manteve sua flexibilidade tática, mas aprendeu com seus problemas no Hoffenheim e começou a desenhar princípios mais bem-definidos para não deixar os jogadores perdidos. Algumas coisas permaneceram iguais, como a afeição de Nagelsmann com os 3 zagueiros para ter uma saída de bola mais bem-trabalhada e uma segurança defensiva maior ao posicionar os jogadores no campo de ataque (embora, diferente do Hoffenheim, o RB Leipzig de Nagelsmann nem sempre começava os jogos com 3 zagueiros e 2 alas de ofício e muitas vezes se defendia em uma linha de 4; ao atacar, porém, um lateral avançava como um atacante e um fechava como zagueiro. Nomes versáteis que podiam atuar tanto na zaga como nas laterais como Klostermann e Halstenberg começaram a ser muito valiosos para Nagelsmann). Sua tendência a se organizar em um 3-1-6 também continuou, mas muitas vezes partindo de um 3-4-3 com os alas avançando para se juntar aos atacantes e um volante (Sabitzer, normalmente) jogando mais avançado que outro (Laimer, normalmente, embora Laimer também já tenha atuado como ala sob Nagelsmann no Leipzig). Além disso, a figura do zagueiro central atuando como líbero, que já existia no Hoffenheim, se consolidou no Leipzig na figura de Dayot Upamecano.
Mas o mais relevante do trabalho de Nagelsmann no RB Leipzig (além, claro, do sucesso esportivo, levando o time a uma semifinal de Champions League e a uma final da Copa da Alemanha) foi uma visão mais clara de quais eram os princípios táticos de Nagelsmann. Ele continuou partindo de ideias mais posicionais, espalhando os jogadores em zonas diferentes do campo para criar linhas de passe e avançar a partir delas, mas tais zonas começavam a parecer mais pontos de partida que delimitadores da movimentação dos jogadores, e o RB Leipzig tinha uma estrutura bem fluida quando tinha a bola. Além disso, Nageslmann abriu mão de ter dois pontas (ou alas) pregados na linha lateral para alargar o máximo possível a linha defensiva adversária e começou a aproximar os jogadores e afunilar seu time no campo de ataque para atacar a área com mais jogadores, encurtar as linhas de passe e facilitar a pressão pós-perda. Os pontas ainda ficavam em amplitude fixa, mas ficavam no limite da linha defensiva adversária – a chamada amplitude relativa.
“Aqui jogamos mais juntos, tentamos nos apoiar nos outros jogadores para dar mais velocidade ao jogo. Se nos abrirmos, não podemos jogar tão rápido como quer o treinador. Por isso, tentamos nos juntar o máximo possível, quase como no futebol de salão. Quanto menor é o espaço, melhor, porque damos mais velocidade à circulação da bola. Atraímos mais rivais assim, mas precisamos nos preparar para jogar sob pressão. Se conseguimos, abrimos espaços maiores e avançamos com mais profundidade” — afirmou Dani Olmo em entrevista ao El País quando questionado sobre se o Leipzig de Nagelsmann praticava Jogo de Posição. A fala de Dani Olmo sintetiza muito bem a filosofia de Nagelsmann à época: apesar de ter princípios mais posicionais, Nagelsmann preferia aproximar seus jogadores e dar mais liberdade a eles. Em primeiro lugar, como dito antes, aproximar seus jogadores cria linhas de passe mais curtas, facilita uma movimentação mais rápida da bola (que tem que percorrer uma distância menor para ir de um jogador a outro) e facilita a pressão pós-perda, porque o time tem mais jogadores na zona onde perde a bola e, portanto, consegue pressionar o adversário de forma mais efetiva. No entanto, a principal vantagem que Nagelsmann busca desenhar com essas aproximações vai um pouco além e a fala de Dani Olmo explica isso muito bem.
Em um Jogo de Posição clássico, o treinador busca ocupar os espaços do campo ao distribuir seus jogadores pelas zonas que ele julga mais estratégicas. A partir disso, o time move a bola entre essas zonas, levando a bola até os jogadores e não os jogadores até a bola; os jogadores devem esperar pela bola nas zonas determinadas pelo treinador. Desse modo, ao mover a bola pelo campo, o adversário é obrigado a correr atrás dela, o que abre espaços pelo campo – e, como os jogadores estão ocupando os espaços mais estratégicos, alguém ficará livre a partir disso. Essa é uma das principais lógicas do Jogo de Posição: preencher os espaços com seus jogadores e mover a bola entre esses espaços até que um jogador fique livre.
“O que se move é a bola. Parece que os jogadores se movimentam, mas o que se move é a bola. As pessoas acreditam, ‘nossa, eles se movimentam muito’. Não. O que se move é a bola. Todos têm que ficar em suas posições. Quando você se move muito, isso não é bom. A bola vem até onde estamos, nós não vamos até onde ela está para pegar a bola” — Pep Guardiola.
Dani Olmo, em sua fala, deixa bem claro que os objetivos do RB Leipzig eram outros. Nagelsmann não queria que todos os espaços do campo estivessem preenchidos para quando um espaço se abrisse no campo, ele já estivesse ocupado estrategicamente por um jogador antes mesmo de se abrir, como no Jogo de Posição. Quando Olmo diz que “atraímos mais rivais assim (aproximando os jogadores, mas precisamos nos preparar para jogar sob pressão. Se conseguimos, abrimos espaços maiores e avançamos com mais profundidade”, ele deixa claro que uma das ideias do Leipzig de Nagelsmann era esvaziar espaços do campo.
Ao aproximar seus jogadores e dar a eles uma liberdade maior em relação às zonas ofensivas, Nagelsmann abre mão de uma ocupação mais simétrica e racional dos espaços do campo. No entanto, isso cria uma gama maior de passes curtos e de possibilidades de interação entre os jogadores, já que eles estão mais próximos uns dos outros, o que facilita o estabelecimento de relações de mobilidade entre eles, e eles têm uma liberdade maior para se moverem sem respeitar zonas pré-determinadas, o que aumenta a possibilidade de jogadas, ações e interações. A ideia dentro disso é a seguinte: Nagelsmann aproxima seus jogadores em uma determinada zona do campo; isso, como disse Dani Olmo, atrai mais rivais, mas, em contrapartida, o time ganha mais qualidade na circulação de bola e mais possibilidades de interação para superar a pressão rival. Em seguida, ao superar a pressão, o time encontraria espaços vazios muito maiores às costas da pressão rival e, portanto, seria capaz de atacar com mais profundidade. Em suma, a ideia de Nagelsmann não é de preencher os espaços do campo de uma forma simétrica e sistemática, mas sim de esvaziar espaços estratégicos, isto é, deliberadamente deixá-los vazios para que, ao bater a pressão adversária, seus jogadores possam infiltrar no espaço vazio e atacar com mais profundidade. O Nagelsmann da época de Hoffenheim mais próximo do Jogo de Posição parecia distante do Nagelsmann do Leipzig, que parecia abraçar mais a cultura de futebolística da Alemanha, que foi muito marcada historicamente (principalmente nos anos 70) por usar princípios funcionais, como a aproximação e a liberdade posicional dos jogadores, para abrir espaços no campo e atacar com mais profundidade, verticalidade e velocidade.
Asas do Desejo – o voo mais ambicioso de Nagelsmann (até então)
A história de amor entre Nagelsmann e Bayern de Munique já estava desenhada há muito, muito tempo: nascido e criado na Baviera, Nagelsmann já declarou em várias oportunidades ser torcedor do Bayern. Aparentemente, o sentimento era recíproco; enquanto Nagelsmann ainda era treinador das categorias de base do Hoffenheim, o Bayern tentou contratá-lo para a própria categoria de base. Ainda sob contrato com o Hoffenheim, Nagelsmann recusou a oferta educadamente e preferiu dar tempo ao tempo. Bom, ele não teria que esperar tanto assim, e as campanhas relevantes do RB Leipzig na Champions em 2019/2020 (semifinalista) e na Copa da Alemanha em 2020/2021 (vice-campeão) carimbaram seu passaporte para voltar à Baviera e finalmente realizar seu sonho de treinar o Bayern de Munique. A tarefa não seria nada fácil, pois Nagelsmann chegaria para substituir Hans-Dieter “Hansi” Flick, que tinha acabado de conquistar um sextete (todos os 6 títulos possíveis em uma temporada) no comando do Bayern, mas (aparentemente) confiança do clube no trabalho de Nagelsmann não faltava. Afinal, a diretoria bávara desembolsou cerca de 25 milhões de euros para contratá-lo do RB Leipzig e lhe ofereceu um extenso contrato de 5 anos, com um salário anual de 7 milhões de euros.
A primeira temporada de Nagelsmann à frente do Bayern foi um tanto estranha. O time ganhou a Bundesliga com 18 pontos de vantagem sobre o Borussia Dortmund, o vice-colocado, e marcou no campeonato incríveis 97 gols, a quarta maior marca do Bayern na história da Bundesliga, atrás apenas do time de 1971/1972, que contava com Müller e Beckenbauer e marcou 101 gols, e dos dois times de Hansi Flick (100 gols em 2019/2020 e 99 gols em 2020/2021). Em paralelo à dominância (esperada, convenhamos) do Bayern no campeonato nacional, o time foi eliminado de forma vexatória da Copa de Alemanha em uma goleada de 5 a 0 sofrida para o Borussia Mönchengladbach (que se tornaria uma pedra no sapato para Nagelsmann em sua passagem pelo Bayern) e caiu na Champions League para o Villarreal nas quartas de final do torneio, até hoje considerada a grande zebra daquela edição do torneio.
Saindo da análise mais supérflua dos resultados e partindo para uma análise do que aconteceu no campo, o Bayern mostrava vários princípios já conhecidos de Nagelsmann: uma tendência a se estruturar com 3 zagueiros enquanto ataca, organização ofensiva em 3-1-6 e um jogo claramente mais pausado e baseado na posse que o Bayern de Flick, que apostava muito mais na pressão agressiva e nos contra-ataques fulminantes.
Mas indo além desses três fundamentos principais, algo de fato estava estranho. Talvez influenciado pela herança tática do time de Flick, que buscava acelerar e verticalizar as jogadas a todo momento e apostar muito mais no jogo externo vertiginoso do que no jogo interno mais pausado, Nagelsmann estava mais posicional do que nunca. Mesmo no Hoffenheim, quando ele teve seu período mais próximo do Jogo de Posição, Nagelsmann não tinha sido tão rígido e seu time jogou uma estrutura mais fluida, que buscava um jogo mais pausado e bem trabalhado por dentro. Seu Bayern, por sua vez, era um time com vários “vícios posicionais”. Ao invés de procurar espalhar seus jogadores pelo campo do jeito mais estratégico e que gerasse melhores linhas de passe e possibilidades de interação como no Hoffenheim, o Nagelsmann do Bayern claramente mecanizava princípios de modo a transformá-los em mecanismos e fixava esses mecanismos para ganhar velocidade e objetividade na circulação da bola, mesmo que isso reduzisse as possibilidades de interações entre seus jogadores. O Bayern de 2021/2022 foi o time mais repetitivo e mecanizado da carreira de Nagelsmann, que usava e abusava de mecanismos fixos fáceis de serem reproduzidos. Começamos a ver aqui outra face do jovem treinador que já se mostrava na inquietude em mudar esquemas táticos na época do Hoffenheim: a insistência de Nagelsmann em ter controle sobre tudo. À medida que a temporada se desenrolava, seu time ficava mais rígido. O 3-1-6 deixava de ser um ponto de partida para seus jogadores, como nos tempos de Leipzig, e começava a se tornar um molde. Nagelsmann começou a especializar seus jogadores, simplificando as interações entre eles para os moldes da estrutura, direcionando as ações e decisões de cada um para uma tarefa específica. Kimmich era o principal distribuidor de jogo e era quem guiava para onde o ataque iria; os alas (agora muito mais fixados no espaço que antes) deviam vencer duelos físicos e/ou de velocidade para ganhar superioridade nos flancos e cruzar (tanto que, quando Davies se machucou, Nagelsmann preferiu colocar mais um ponta no time – Coman – do que mudar o perfil do ala pela esquerda); os atacantes interiores deveriam infiltrar na área para aproveitar esses cruzamentos. Mais do que nunca, o Bayern se dividia em dois blocos: os 4 defensores-armadores (3 zagueiros + Kimmich) e os 6 atacantes definidores. Nagelsmann chegou a ter uma discussão delicada com Lewandowski quando quis mudar o jeito que o atacante polonês cabeceava; isso resumia bem o desconforto dos jogadores em terem que se encaixar à estrutura tática. “Como um treinador, estou onde estou hoje porque tive sucesso com uma certa filosofia de treinamento. Exercícios complexos, comportamento tático para se adaptar aos oponentes. Os jogadores do Bayern não estavam acostumados com isso”, disse Nagelsmann ao fim daquela temporada.
Nagelsmann poderia ter insistido na mesma ideia (afinal, apesar de pouco popular, foi o que guiou o Bayern a um título de Bundesliga com o quarto melhor ataque da história), mas preferiu dar um passo para trás e ouvir seus jogadores. “Na segunda temporada, vou desviar um pouco do meu caminho. […] Aprendi na temporada passada o quão importante cada indivíduo é para formar um time. Isso é ainda mais importante que ensinar tática. […] Aprendi a me comunicar com os jogadores e deixá-los participar em minhas ideias. […] Falei com muitos jogadores no telefone durante as férias, e avisei como vou me adaptar: mais foco em nós e menos foco nos oponentes. Também pedi a opinião deles. […] Acho que subestimei a importância de conversas individuais. Os jogadores devem sentir que estão sendo notados pelo treinador”, disse Nagelsmann no começo da temporada 2022/2023.Essas palavras não foram da boca pra fora, e Nagelsmann de fato mudou radicalmente o modo que o Bayern jogava. Primeiro, o treinador buscou entender como cada jogador se sentia mais confortável dentro de campo para montar uma estrutura tática a partir disso, não escolher uma estrutura tática e tentar encaixar os jogadores nela. Assim, Nageslmann passou a seguir uma filosofia muito mais parecida com a de Ancelotti do que a de Guardiola. “A solução não está na adaptação, mas sim na mudança; ou melhor, na escolha de um sistema que se adaptasse aos meus jogadores, e não o contrário”, diz o italiano. “O treinador vê o todo, combina qualidades individuais e compõe a equipe”. Ainda seguindo a ideia de Ancelotti, que defende que “os espaços são formados se movendo”, Nagelsmann, partindo do princípio de encaixar seus jogadores em campo de modo que cada um se sinta confortável, montou um sistema que se baseava nos movimentos naturais (ou funções naturais) de cada jogador para avançar em campo. Ao invés de levar a bola até os jogadores, como no Hoffenheim e na sua primeira temporada no Bayern, Nagelsmann levou os jogadores até a bola e montou uma estrutura que levava a bola até o ataque e fazia o time ganhar metros em campo a partir dos movimentos de cada um. Isso, aliada à saída de Lewandowski que, apesar de ser muito sentida pela falta de gols que isso causaria ao time, acabou livrando o Bayern de um vício de sempre buscar cruzamentos para a referência, acabou resultando em um time muito móvel, completamente livre de amarras posicionais e da necessidade de responder a uma macroestrutura, que avançava em campo a partir dos movimentos de seus jogadores. Era o Bayern do ataque funcional.
O Bayern do começo da temporada 2022/2023 era funcional ao extremo. Nagelsmann largara mão de todos os seus princípios posicionais e investira toda a estrutura de posse do seu time nos movimentos dos seus jogadores. Era um Bayern totalmente assimétrico, que juntava todos os jogadores ao redor da bola e raramente posicionava alguém no lado oposto para receber uma inversão. A lógica de movimentação do time era profundamente baseada no toco y me voy, isto é, jogadores passavam a bola e imediatamente ultrapassavam para ocupar um espaço vazio. Era a versão mais radical dos princípios mais interessantes do Leipzig de Nagelsmann: aquele Bayern juntava jogadores ao redor da bola e buscava gerar espaços vazios a partir dos movimentos dos jogadores para que eles infiltrassem nesses espaços vazios, dando bastante profundidade e dinamismo ao ataque. Os Bávaros encerraram a primeira metade da temporada líderes da Bundesliga e na primeira colocação do grupo da Champions com 18 pontos conquistados de 18 possíveis: 100% de aproveitamento em um grupo com Barcelona e Inter de Milão, e só tomando gol em um jogo (na vitória por 4 a 2 sobre o Viktoria Plzen).
O Bayern termina a primeira metade da temporada e para suas atividades para a Copa do Mundo do melhor jeito possível, mas volta da parada para a Copa do Mundo para encarar a segunda (e mais importante) metade da temporada do pior jeito possível. Além dos jogadores voltarem fisicamente muito desgastados pela maratona de jogos que disputar uma Copa do Mundo no meio da temporada causa, o que dificultaria os movimentos longos e constantes que o time fazia na primeira metade da temporada, Nagelsmann viu um elenco muito desmoralizado principalmente porque os jogadores alemães (Neuer, Kimmich, Sané, Musiala, Müller, Goretzka), cerne do elenco e lideranças tanto técnicas como morais, tinham acabado de sofrer o baque da eliminação na fase de grupos pela segunda Copa do Mundo consecutiva. Por isso, tendo em vista a situação física e mental delicada de seus jogadores, Nagelsmann ficou receoso em voltar ao ataque funcional que dera tão certo por não ter tanta confiança que seus jogadores seriam capazes de performar com tamanha liberdade e responsabilidade dentro de campo e acabou voltando ao tradicional. Assim, para a segunda metade da temporada, Nagelsman voltou a usar um 3-1-6 rígido, extremamente posicional, com mecanismos fixos e facilmente reproduzíveis para que seus jogadores não fossem tão exigidos e tivessem um plano de jogo fixo e mais simples em suas mentes.
Assim, Nagelsmann se classificou para as oitavas de final da Copa da Alemanha e para as quartas de final da Champions League vencendo o PSG de Messi e Mbappé. No entanto, a queda na qualidade do futebol do time era visível: o jogo era muito mais mecanizado, burocrático, que se baseava muito mais no volume que na qualidade de chances de gol para vencer a partida e claramente tinha muito menos armas ofensivas para ferir o adversário. Essa queda no rendimento foi muito refletida na Bundesliga. O Bayern começou janeiro com 3 empates no campeonato nacional, depois venceu 2 vezes, então foi derrotado pelo Borussia Mönchengladbach, depois venceu mais 3 vezes e, então, perdeu para o Bayer Leverkusen de Xabi Alonso, sensação do campeonato. Entre a volta da Copa do Mundo e a primeira parada para a Data FIFA do ano, o Bayern disputara 10 jogos da Bundesliga, vencendo 5, empatando 3, perdendo 2 e conquistando 18 pontos dos 30 possíveis, ou seja, 60% de aproveitamento. Uma marca um tanto melancólica quando comparada à da primeira parte da temporada, onde o Bayern disputou 15 jogos, empatou 4, perdeu 1 e venceu 10, conquistando 34 dos 45 pontos possíveis em um aproveitamento de 76%, que só fica mais melancólica ao notar que a queda de rendimento do Bayern permitiu que o Borussia Dortmund assumisse a liderança da Bundesliga na parada para a Data FIFA, com a próxima rodada sendo justamente um confronto direto entre Bayern e Dortmund. Assim, em março de 2023, em um movimento que surpreendeu a todos, Nagelsmann foi demitido do Bayern de Munique e substituído por Thomas Tuchel, seu antigo professor e sonho já conhecido da diretoria bávara. Quando questionado sobre a troca, Oliver Kahn, então CEO do Bayern, disse que sentiu que o futebol do time caiu depois da volta da Copa do Mundo (justamente quando Nagelsmann voltou a seus antigos vícios posicionais) e via que a tríplice coroa estava ameaçada (curiosamente, trocando Nagelsmann por Tuchel, um posicional muito mais convicto e irredutível, o Bayern foi eliminado na Copa da Alemanha no segundo jogo do novo treinador, foi atropelado pelo Manchester City na Champions League e venceu a Bundesliga apenas no saldo de gols e contando com uma grande ajuda do Borussia Dortmund, que precisava apenas vencer seu jogo da última rodada dentro de casa para ser campeão e acabou empatando). Terminava, assim, a história de Bayern com Nagelsmann, algo que parecia que ia durar anos e nem completou duas temporadas.
No entanto, deixei propositalmente de fora uma das páginas mais relevantes (e interessantes) da transformação tática de Nagelsmann no Bayern. Entre o 4-2-2-2 ultra-funcional do começo da temporada e o 3-1-6 ultra-posicional do final da temporada, Nagelsmann encontrou uma “terceira via” para o time. Em meados de outubro, pouco antes da parada para a Copa do Mundo, o Bayern jogava no que podemos chamar de “4-2-3-1 germânico”.
Contextualizando um pouco antes de continuarmos, o futebol germânico, pela proximidade geográfica e cultural com a Hungria e principalmente com a Áustria, acabou herdando uma cultura futebolística danubiana, mais voltada ao ataque funcional e ao relacionismo, procurando construir vantagens no campo a partir dos movimentos e funções dos jogadores e não de suas posições. No entanto, por suas particularidades culturais, o futebol germânico acabou se desenvolvendo para um perfil mais vertical, de mais transições, usando o ataque funcional mais como arma de encurtar as distâncias entre os jogadores, acelerar a circulação de bola (tornando-a mais rápida, imprevisível e intensa) e abrir espaços vazios a partir das movimentações dos jogadores do que para propriamente potencializar a técnica e o talento individual, como na tradição funcional danubiana e sul-americana.
A versão mais “nacionalista” de Nagelsmann buscou montar um time em uma mescla de 4-2-3-1 com 4-3-3. Com uma linha tradicional de 4 defensores na base, Nagelsmann escala 2 volantes (Kimmich mais recuado e Goretzka mais avançado) e um 10 (normalmente Sané) que podia ficar mais próximo dos volantes (4-3-3) ou dos pontas Gnabry e Mané (4-2-3-1). No comando do ataque, o Bayern voltava a ter um 9 de referência com Choupo-Mouting.
A grande exibição desse Bayern foi no 5 a 0 sobre o Freiburg em 16 de outubro de 2022. Era, sem dúvidas, um time mais posicional que aquele que começara a temporada: um time mais espaçado em campo, com alguma noção (embora débil; falo mais disso mais tarde) de zonas ofensivas e muito mais disposto a explorar os lados do campo que o Bayern do 4-2-2-2, que concentrava todo o seu jogo na faixa central. Mané foi o mais afetado pela mudança: começou a temporada como segundo atacante de faixa central e, no novo Bayern, jogava como um ponta bem clássico, lembrando mais seus primeiros momentos no Liverpool. Gnabry também deixou de ser um atacante de faixa central e foi jogado mais para o lado, mas avançava mais por dentro que Mané. Sané, o 10, atuava um pouco mais à direita, e deixava um espaço à sua esquerda para que Goretzka infiltrasse (numa ideia muito diferente, porém. Ao invés de usar o poder de infiltração de Goretzka para fixá-lo no espaço, como no Bayern do 3-1-6, Nagelsmann usou isso para potencializar a chegada no espaço vazio, permitindo movimentos mais longos e de maior liberdade). Choupo-Mouting era um 9 mais fixo e Davies e Mazraoui, os laterais, eram muito participativos na construção do jogo e atacavam por dentro e por fora. No entanto, apesar de uma primeira vista enganosa, esse time era tudo, menos posicional.
Era um Bayern mais espalhado em campo, bem mais vertical e que explorava muito a amplitude e o jogo externo para acelerar as jogadas. No entanto, os princípios de jogo em nada lembravam um time posicional. O jogo externo, muito presente nesse time, não era explorado a partir de pontas fixados no espaço; pelo contrário, muitas vezes o Bayern buscava esvaziar as pontas ao recuar ou trazer para dentro seus jogadores de lado para que eles pudessem chegar no espaço vazio e atacar os flancos com mais profundidade e verticalidade. Mas o mais importante de tudo era que o jogo pelas pontas não vinha em detrimento de uma maior elaboração por dentro; na verdade, vinha para potencializar o jogo interno, a verdadeira joia daquele time. No corredor central, todos os princípios funcionais de liberdade de movimentação, de aproximação, de toco y me voy e de avançar em campo e criar espaços vazios a partir dos movimentos dos jogadores continuavam lá, intocados. Ao melhor estilo germânico, o futebol do corredor central daquele Bayern era frenético, inquieto, funcional, cheio de ranhuras e movimentos que rompiam com uma ordem posicional, buscando, a partir desses princípios, construir as jogadas por dentro para, no terço final, acelerar e concluir pelas pontas. Os jogadores tinham liberdade para se movimentar por espaços longos, deixar suas posições iniciais, rasgar diagonais que cruzavam o campo e, em suma, fazer o time avançar a partir de seus movimentos individuais, sempre a partir do princípio de esvaziar espaços para infiltrar neles e dar mais dinamismo e profundidade às jogadas. O Bayern não se organizava por zonas ofensivas nem por linhas posicionais bem desenhadas, apesar de um primeiro olhar enganoso. Era um time profundamente sedimentado em ideias funcionais, como as diagonais, as “escadinhas” (escalonar jogadores de forma vertical/diagonal, colocando um em cada altura, sempre ao redor da zona da bola, para que o time ganhe metros verticalmente de forma mais natural), os espaços vazios e os movimentos dos jogadores como princípio organizador da estrutura ofensiva. Foi, sem dúvida, um time profundamente autoral e com fortes traços culturais que orgulhou qualquer fã do futebol germânico dos anos 70.
O Céu sobre Berlim
O estilo mais próximo do Jogo de Posição no Hoffenheim, o começo de uma abordagem mais funcional e germânica mas sem abandonar os princípios posicionais no RB Leipzig, um posicionalismo mais rígido e automatizado em um primeiro momento no Bayern, a mudança para um futebol funcional extremo e ortodoxo num momento seguinte, um período mais ligado às suas raízes culturais germânicas ainda no Bayern e um final de passagem pela Baviera muito marcado pelo futebol posicional rígido e automatizado: tudo isso representa a crise de identidade que Nagelsmann está passando em seu canto.
No outro canto, porém, a Alemanha também vive sua própria crise de identidade. Depois de anos tentando moldar seu jogo para um estilo mais definido de gegenpressing e contra-ataques ultraverticais à lá Rangnick na primeira década do século XXI (processo esse que levou a Alemanha a um título mundial em 2014), o futebol alemão começou a se incomodar com alguns aspectos desse estilo. Partidas imprevisíveis demais e uma incapacidade de colocar esse jogo em prática contra times que se fechavam em seu campo de defesa e se recusavam a ter a posse de bola foram os primeiros sinais de que a Alemanha deveria mudar, e a resposta parecia óbvia.
A primeira metade da década de 2010 foi muito marcada pelo Barcelona e pelo Bayern de Pep Guardiola. E foi justamente no Bayern que Guardiola começou a transformar seu Jogo de Posição em um método muito bem definido e elaborado, mecanizando princípios mais fáceis de serem reproduzidos e replicados para acelerar a circulação da bola e fixar melhor os jogadores no espaço. Era um jogo esteticamente agradável para muitos e que permitia um controle absurdo sobre todas as situações do jogo, algo que a Alemanha ansiava, mesmo que viesse a custo da individualidade de muitos jogadores e que fosse contra toda a cultura futebolística do país.
A Alemanha fechou os olhos para isso e abraçou o Jogo de Posição. Lentamente, nomes da escola mais tradicional de gegenpressing, como Ralf Rangnick, foram deixados de lado e preteridos por treinadores melhor versados na escola do Jogo de Posição, como Thomas Tuchel. Embora alguns treinadores alemães buscassem outro caminho ao mesclar a escola do gegenpressing com o jogo funcional germânico, como Klopp e Roger Schmidt, a maioria foi pela “linha editorial” de Tuchel, comprando uma ideia de futebol moderno, mais complexo e avançado. Esse processo galgou seu lugar nas categorias de base, e a formação não só de treinadores, mas também de jogadores começou a ser muito afetada por isso. Começavam a surgir jogadores mais voltados ao Jogo de Posição, muito capazes de jogar em espaços curtos, versados no domínio orientado e no jogo de dois toques, ultra-especializados, com bastante refino técnico para dar o passe e desequilibrar em poucos toques, e lentamente a filosofia mais tradicional do jogo germânico se perdia. Depois de duas eliminações consecutivas na fase de grupos, ambas muito marcadas por times ultraofensivos, mas nada contundentes no ataque e muito frágeis na defesa, algumas vozes tímidas, mas relevantes (inclusive de dentro da DFB e do próprio Flick) começaram a reclamar de uma geração que era tão talentosa quanto era desequilibrada. A Alemanha não tem mais um camisa 9 confiável, algo tão marcado na história futebolística do país (Gerd Müller, Rummenigge, Klinsmann, Klose, Podolski etc.). Não há laterais confiáveis, zagueiros de alto nível, meio-campistas defensivos. Há muito talento na faixa central do campo com Kimmich, Gundogan, Sané, Thomas Müller, Musiala, Wirtz, Havertz etc., mas pouco equilíbrio de peças disponíveis e poucos jogadores tipicamente germânicos, versados no jogo de transições, vertical e funcional, que faziam movimentos longos pelo campo e criavam espaços vazios a partir das movimentações. Exceto Kimmich, Musiala e Wirtz (em parte), a maioria dos melhores jogadores da Alemanha foram versados e/ou renderam seu melhor em sistemas posicionais que, embora não tenham nada intrinsecamente errado, aparenta ser uma enorme contracultura na Alemanha. Toda essa crise de identidade causou na demissão de Flick, a primeira demissão de um treinador da Seleção Masculina principal na história do país.
Voltando a Nagelsmann, ele tem muito a resolver. Talvez, ainda por ser um treinador muito jovem, ele tem muitos maneirismos e vícios a aparar como, por exemplo, sua obsessão excessiva por controlar situações do jogo e uma inquietude quase ansiosa em fazer ajustes táticos atrás de ajustes táticos quando as coisas não se desenrolam do jeito que ele envisionou. Sua pouca idade e experiência ainda limitada no mais alto nível do futebol acabaram potencializando esses maneirismos e minando a confiança de Nagelsmann em seus jogadores quando ele se viu em cenários de maior pressão no Bayern de Munique, por exemplo, e acabou preferindo ter mais controle da situação ao montar um time mecanizado e facilmente reproduzível do que dar bastante liberdade e responsabilidade aos jogadores em campo para que eles avançassem em campo a partir de seus próprios movimentos. Porém, no cerne de sua filosofia futebolística, há um traço muito único e raro de se encontrar no futebol de hoje baseado na confiança para/com seus jogadores, algo muito bem representado quando ele viu que a estrutura posicional rígida não tinha dado certo no Bayern e resolveu ouvir seus jogadores e mudar. Faltou, talvez, confiança para manter isso em momentos de dificuldade, mas a ideia, a filosofia de escutar seus jogadores e ajustar o sistema tático para um que os acomode da melhor maneira está lá.
“Eu dou aos meus jogadores padrões que se aplicam a qualquer estrutura básica e a todas as fases do jogo. É importante que meus jogadores coloquem os princípios que nós temos em prática no campo. Então mudá-los para se adequar ao respectivo oponente. Isso nos torna menos previsível”, disse Nagelsmann sobre sua filosofia. Essa fala resume o que há de mais interessante no jovem treinador: ele prefere instruir seus jogadores em princípios básicos, adaptando e ajustando o jogo do elenco para diferentes situações, e então confiar neles para que, no jogo, eles possam aplicá-los e adaptá-los de acordo com o cenário. Talvez, com mais confiança em si mesmo e em seus jogadores, Nagelsmann possa construir um jogo mais complexo e de maior liberdade. Para além disso, ele é um treinador riquíssimo, muito inteligente e que carrega consigo várias heranças. Ele herda a cultura do Jogo de Posição por sempre ter admirado Guardiola e por ter se formado como treinador sob o comando de Tuchel, mas ele herda também a cultura futebolística germânica, sedimentada nas transições e no jogo funcional e vertical, e também tem traços de um jogo funcional mais danubiano, focado mais nas aproximações e na pausa para construir as jogadas por dentro. Sua missão agora é lutar para que todas essas heranças sejam de fato suas, pois elas existem, estão lá e serão determinantes para a formação de Nagelsmann como técnico, mas ele não pode ser refém delas. Se ele está confuso, a Alemanha está mais ainda; e se cada um continuar na própria confusão, Nagelsmann e Seleção Alemã será um casamento fadado ao fracasso. Ele não pode copiar o Jogo de Posição, o jogo germânico ou o jogo funcional clássico porque alguém disse que ele devia; ele precisa entender cada uma delas, a relação que ele desenhou com elas e se localizar no meio disso tudo. Lutar para não ser um fantoche de uma cultura, mas absorver todas elas, digeri-las em seu âmago, interpretá-las e, por fim, entender quem ele realmente é. Lutar para tornar verdadeiramente seu o que herdou de outros é o principal drama da carreira de Nagelsmann até aqui.