ZAGALLO FUNDOU O FUTEBOL BRASILEIRO

Um lateral subindo por vez, meias/atacantes que jogam por dentro e pelos dois lados, o desenvolvimento das funções ou dos papéis sociais (o 2º volante infiltrador, por ex.),tudo que reconhecemos por décadas como parte do jogo veio de Zagallo

Zagallo instruindo jogadores da seleção

1. OS “CINCO CAMISAS 10”

No final da década de 60, o futebol brasileiro já havia incorporado plenamente as diagonais de Flávio Costa e a presença do falso-ponta. Todos os melhores times jogavam com um meia na ponta, criando um quarteto com os 2 volantes e o ponta-de-lança.

Mais do que isso. A ideia de que os melhores deveriam estar em campo e se aproximar era dominante, mas ainda faltava um sistema ofensivo mais coerente para esse intento. Usando coisas já testadas por ele no Botafogo, Zagallo deu o próximo passo na seleção de 70.

Naquela época, os times no Brasil jogavam com um “5”, um “meia-armador”, um “ponta-de-lança” e um “falso-ponta”. Gérson e Rivellino eram os “meias-armadores” dos seus times, e Pelé, Tostão e Jairzinho eram os “pontas-de-lança”.

Se Zagallo fosse respeitar a posição de cada um em seu clube, teria jogado apenas com Gerson e Pelé, e talvez com mais um ponta-de-lança de 9. Mas Zagallo queria os melhores juntos e criou um sistema para jogar com os 2 armadores e os 3 pontas-de-lança.

2. O ATAQUE FUNCIONAL

Não bastava colocar os cinco craques em campo. Riva preso na ponta-esquerda não teria sido Riva. Jairzinho preso na ponta-direita não teria feito tantos gols. Zagallo inseriu os 5 craques e desenvolveu as funções adequadas para cada um.

O time se organiza segundo o lado que a bola se encontra. Com a bola do lado direito, o LD ataca pela linha de fundo enquanto o LE fica em diagonal defensiva, o ponta-esquerda vem ao centro, e o time se aproxima todo do lado direito.

Campinho brasil de 70

Com a bola do lado esquerdo, o LE ataca pela linha de fundo, o LD fica em diagonal defensiva, e o resto do time faz o balanço de lado:

Campinho Brasil de 70

O primeiro volante protegia a defesa, e o segundo volante infiltrava, passando a bola e indo adiante para receber. Na seleção de 70, Gerson e Clodoaldo se revezavam no papel de primeiro e segundo volante.

Riva é o meia que começa na ponta, tornando-se um 3º homem de meio e companheiro de Gerson (os 2 meias-armadores). Jair é um 2º atacante que começa na outra ponta, tornando-se companheiro no centro de ataque de Pelé e Tostão (os 3 pontas-de-lança). Zagallo unia os 5 perto da bola

O time mantém as diagonais ofensivas com cada jogador numa altura e avançando em campo a partir das escadinhas, que facilitam as tabelas em progressão:

Organizando-se pelo lado da bola, todos os jogadores ofensivos, os “cinco 10s”, poderiam se aproximar e dialogar. O resultado é o icônico gol de Carlos A. Torres com o time inteiro do lado esquerdo e com rápida inversão de lado. Gerson e Riva juntos. Tostão, Jair e Pelé também:

A seleção de 70 foi a melhor da história. Única seleção que terminou a sua edição em 1º lugar em posse, chutes ao gol e dribles por jogo. Só a seleção de 82 chutou mais ao gol que a de 70.

3. IDENTIDADE

Após o título de 70, o estilo da seleção brasileira tornou-se amplamente hegemônico no futebol brasileiro. Os técnicos poderiam ser mais ofensivos ou defensivos, gostar mais do passe curto ou longo, mas quase todos repetiam o ataque funcional de Zagallo.

Mesmo após a transformação do “4231” de 1970 em 4312 ou 4222, os princípios consagrados por Zagallo continuaram dominantes: um lateral passando por vez no corredor, meias e atacantes se aproximando nos 2 lados, organização pelo lado da bola, diagonais ofensivas e defensivas.

Seja o Flamengo de Zico ou o São Paulo de Telê, seja o Palmeiras de Luxemburgo ou o Grêmio de Felipão, essas características continuavam lá. Um lateral passando por vez, os jogadores ofensivos fazendo o balanço pela bola, as funções/papeis sociais, etc.

O Velho Lobo só foi um “pai fundador” porque era um apaixonado pelas marcas do Brasil impressas no jogo. Era um apaixonado pelas características ficcionais e literárias daquele Brasil que criou a sua própria linguagem para se expressar no futebol.

Zagallo consolidou o futebol brasileiro que a minha geração e tantas outras se acostumaram. Esse futebol entrou em crise e descrédito. Foi assassinado no futebol de base, e poucos técnicos o seguem ou tentam reinventar esses princípios no profissional.

Nesse momento de extrema infâmia de nossos dirigentes, cegos e insensíveis ao que transformou o futebol brasileiro num símbolo, está na hora de resgatar os ensinamentos do Velho Lobo. Como ele nos ensina: “que se modifique a maneira de jogar para se ter beleza nesse mundo”.

Texto retirado do Twitter @Jozsef_Bozsik

1 comentário em “ZAGALLO FUNDOU O FUTEBOL BRASILEIRO”

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