A Copinha fora do radar: 15 talentos escondidos pelos rincões do Brasil

Corinthians e Cruzeiro se enfrentam amanhã (25) pela final da Copa São Paulo de Futebol Júnior na Neo Química Arena. A essência da Copinha, no entanto, não está nos grandes palcos – está nos pequenos. Para mergulhar em 15 talentos selecionados que revelam um pouco deste enorme mundo de futebolistas escondidos pelos rincões do Brasil, segue o texto!

Garotos jogando bola na rua

 Há algo mais Brasil, afinal, do que se deparar a cada esquina com um potencial craque de bola? É impossível quantificar, analisar e materializar este fenômeno; no entanto, a famosa Copinha é provavelmente a maior síntese dessa particularidade do Brasil. 128 equipes, garotos com as mais diferentes histórias vindos dos quatro cantos do país… sendo assim impossível assistir a todos os atletas da competição, para elaborar essa thread que se propõe a trazer um pouco do talentos destes garotos ao Twitter, alguns critérios foram utilizados:

  • Apenas foram consideradas equipes que não estiveram na Série A do Campeonato Brasileiro profissional em 2023; times que estiveram na Série B, no entanto, foram considerados, apesar de serem também plenamente observáveis em outros contextos do futebol de base;
  • A thread não se propõe a ser um trabalho de Scouting na acepção da palavra, avaliando a projeção do jogador ao futebol profissional. O único critério é buscar atletas criativos, que divertem o espectador e que mostram toda a potência do Brasil enquanto produtor de jogadores absolutamente específicos. O trabalho é, portanto, eminentemente pessoal; 
  • Neste recorte, foram observadas 50 equipes e destacados 47 jogadores, depois filtrados em 15 para essa thread. Uma amostra pequena do torneio, mas ao mesmo tempo importante.

Sem mais enrolação, aos protagonistas:

Neymar na copinha

GERAÇÃO 2003

Kauã Oliveira – Ibrachina

Meio-campista – 2003

O primeiro atleta da lista, Kauã, é um tipo muito particular. É alto, esguio, calmo e com jeitão de 10… no entanto, joga como 5 ou 8. Preciso no passe como poucos ao nível de base além criativo e com muita consciência vendo o jogo de frente, por fora do bloco. Dentro do bloco, quando se coloca para receber nas costas da pressão adversária, muitos recursos para jogar pressionado – dribla como fosse futsal. Vejam em vídeo:

João Gregório – Inter de Bebedouro

Meio-campista – 2003

João se destaca na humildíssima Inter de Bebedouro. Meio-campista elegante, muito calmo e com técnica deliciosamente limpa. Vê o jogo de frente, com preferência em estar lateralizado pela esquerda, distribui com ótimas bolas longas e conduz. Exala aquele autoconhecimento da própria superioridade técnica que o bom jogador exala; aqui, o vídeo:

Guilherme Souza – XV de Jaú

2003 – LD

Guilherme Souza é um tipo de lateral cada vez mais raro. É explosivo, bom conduzindo e chegando por fora como muitos. Mas em um futebol onde laterais, quando por dentro, costumam restringir-se a poucos toques e movimentos mais curtos, Guilherme, se diferencia por movimentos amplos e conduções longas por todos os corredores – inclusive por dentro.

Dayverson – Macapá

2003 – Ponta

Dayverson esteve por toda internet após o surpreendente empate do azarão Macapá contra o Vasco. É daqueles jogadores que carregam o time nas costas, independentemente da situação. Ponta direita canhoto que usa muito bem a perna direita, de técnica fina e combinação de condução e 1×1 muito boa. Excelente trazendo para dentro e arrastando o lateral consigo, mas também muito bom quando flutua por dentro para receber, como um meia – pode ter um grande salto caso faça isso com mais frequência, principalmente usando mais de sua criatividade para achar soluções em espaços curtíssimos e deixar passes em profundidade. Vejam:

GERAÇÃO 2004

Welington Kauan “Zaru” – Madureira

Meia – 2004

Um apelido como “Zaru” já serve para destacar um atleta. Wellington Kauan – que, convenhamos, deve ser chamado apenas de Zaru –, no entanto, chama atenção por muito mais do que seu apelido. Não é exagero afirmar que o camisa 10 do charmoso Madureira é um dos jogadores mais criativos da Copinha. Partindo da meia esquerda e flutuando por todo campo, Zaru é o capeta driblando. Pela cancha inteira e não apenas em setores específicos, de “menos risco”, o garoto esbanja de sua criatividade e malandragem para fazer marcadores de bobo. Usa muitíssimo bem o corpo e os braços para manter adversários distantes da bola e é também bom em termos construtivos, baixando para receber e distribuindo, principalmente com bolas longas. Assistam:

Kaíque Clemente – Ituano

2004 – MEI

Aqui um dos atletas que, para mim, está não apenas entre os melhores dos times de menos destaque, mas da competição inteira. Kaíque é o 10 que todos gostamos. Chuteira preta, canhoto, baixinho mas robusto o suficiente para aguentar fisicamente, joga parado, exuberante tecnicamente e conduz rente ao pé com criatividade no drible – por isso, é às vezes ponta. Não é o mais participativo sempre; prefere jogar pela “zona morta”. Mas cria, faz gols e mostra o jogador que é. Apenas vejam:

Denis – Portuguesa

2004 – MC

Como é comum na base, os jogadores de melhor qualidade no passe tendem a participar da saída entre os zagueiros antes do que dentro do bloco, como acontece com mais frequência no nível profissional. Fazendo isso, poucos são melhores que Denis, da surpreendente Lusa. Camisa 8 de excelente distribuição por bolas longas, criativo no passe em profundidade e com consciência corporal para usar seu físico e técnica refinada para “esconder” a bola em momentos de pressão.

Danillo – Retrô

2004 – MC

Danilo é mais um 8 da estirpe de Denis, citado anteriormente. Cabeça erguida, peito aberto, técnica limpa, distribuição entre os zagueiros e consciência corporal para proteger a bola contra a pressão. Se é menos criativo no passe e no drible do que Denis, é muito mais preciso e consciente nas bolas longas – um dos melhores na competição. Altera por completo o cenário de jogos por seu “magnetismo” na construção. Tudo passa por ele.

Jefferson Brito “Jeffão” – Coimbra-MG

2004 – ZAG

Apesar de potencialmente um excelente zagueiro, Jeffão não está aqui apenas por sua qualidade, mas por exemplificar um perfil de zagueiro que valorizei muito na competição. Não é necessariamente excelente construindo – no caso de Jeffão, teima a identificar algumas vantagens apesar de não ter má relação com a bola –, mas é excelente defendendo. Antecipando ou recuperando em linha alta, em 1×1, defendendo a área por cima e por baixo, se impondo fisicamente… uma pequena amostra: 

GERAÇÃO 2005

Murilo – Nacional

2005 – MC

Abrindo a geração de 2005, Murilo é mais um jogador extremamente particular da Copinha. Nos três jogos da competição, jogou como terceiro homem de meio, segundo, 10 e até como uma espécie de “falso-ponta”. A posição importa pouco, entretanto – Murilo, acertadamente, a respeita pouco. O que importa é a forma como se movimenta, pelo campo todo, buscando tabelas com seus companheiros; técnica limpa, bom tanto conduzindo quanto jogando a um toque, sempre se movimenta após passe, ótimo na bola parada e sempre com ânsia de fazer o diferente. A ânsia às vezes o prejudica – quer sempre jogar para frente, e às vezes erra. Quando aprender que é melhor manejando mais os ritmos ao invés de estar sempre verticalizando, pode vir a ser um jogador para alçar grandes voos. 

Mayke – São Carlense

2005 – MC

Basicamente qualquer um dos meio-campistas do bom São Carlense poderiam estar aqui. Mayke, no entanto, é o jogador mais específico deles. De gesto pouco convencional para um atleta que joga em sua faixa do campo, jogou tanto como um segundo homem de meio, mais por dentro do bloco/lateralizando pela esquerda, quanto como 5, fazendo a saída entre os zagueiros. Em ambas as posições, demonstrou qualidade para coordenar saídas desde trás, mas também para ir adiante e se projetar pelo campo de ataque. 

Mauro – Ibrachina

2005 – SA

Mauro, do Ibrachina, é o segundo atacante brasileiro clássico. Em um time muito ofensivo, jogava na centro-esquerda em uma espécie de 4-2-4; canhoto, mostrou qualidade baixando em apoio para “conferir” a bola e também atacando a área para finalizar, o que faz muito bem. Alguns gols que fez:

Loureiro – Bangu

2005 – VOL

A elegância está na família. Peito aberto, cabeça erguida e bola colada no pé; apesar de não canhoto, quando ouve-se que o filho de Felipe Maestro está em campo, logo percebe-se que é Lucas Loureiro. No bom Bangu, mostrou ser um segundo volante de muita consciência na distribuição, hábil em espaços curtos e associativo. Vejam:

Andry – Santa Cruz Riachuelo

2005 – MC

Apesar da amostra ser pequena – o Santa Cruz Riachuelo, participante da Copinha pela primeira vez, não consegue se propor a ter muito a bola e não jogou mais do que os 3 jogos da primeira fase –, o fato do garoto Andry, nascido apenas em 2005, destacar-se em um ambiente que não é necessariamente o mais adequado para suas qualidades basta para estar nessa lista. Camisa 8 de imposição técnica, qualidade pausando e distribuindo em um time de muitas transições e boa condição física. E de um time muito simpático.

Davi Gomes – Água Santa

2005 – Ponta

Davi Gomes merece ser a chave de ouro que encerra a thread. Não se veem mais pontas ao pé natural como este garoto, um dos jogadores mais divertidos da competição. A partir de seu pé direito, deixou dribles diretamente garrinchescos. Vai pra cima, dá um tapa pra lá, entorta, um tapa pra cá e bate o marcador. Davi é excelente tanto recebendo aberto e indo para o 1×1 quanto cortando para dentro e se associando. Não há muito o que falar, mas pela idade e qualidade não dura no Água Santa. Apreciem:

Com certeza muitos garotos excelentes ficaram de fora dessa lista. Como menções honrosas, destaco Brendon (Flamengo-SP), Aílton (Trindade-GO), Kauan Lindes (Coimbra-MG), Hugo Iglesias (Portuguesa-RJ), Caio Garcez (União Suzano), André Henrique (Ponte Preta), Adriano Borges (Criciúma), Renan Nunes (Portuguesa), Pedrinho (Audax) e Luís Felipe (São Carlense), além de muitos outros que passaram despercebidos aos meus olhos ou sequer foram assistidos.

Thread original:

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