Posse de bola não significa futebol ofensivo
Precisamos desconstruir esse imaginário recente que 200% de posse de bola e um número alto de chutes a gol significa um futebol ofensivo e arriscado.
Precisamos desconstruir esse imaginário recente que 200% de posse de bola e um número alto de chutes a gol significa um futebol ofensivo e arriscado.
Baixinho, gordinho, pouco atlético, mas quando encostava na bola colocava até os defuntos em vigília pelo que ocorreria. Os minutos sem Maradona eram de ansiedade por Maradona. E os minutos com Maradona eram de atenção e espanto.
As duas equipes gostavam de ter a bola e tocá-la com qualidade, nem sempre num jogo mais direto. No entanto, faziam isto de maneira antagônica, pois Telê e Cruyff sentiam a vida cada qual a sua maneira.
Não faz sentido discutir se há liberdade em Guardiola, pois a indisciplina é também parte do livre-arbítrio
O discurso oficial do futebol está dominado por um racionalismo meramente instrumental. De que serve esse jogador? O que produz? Reproduziu o treino nos 90 minutos? Tomou sempre as melhores decisões? Errou o mínimo possível?
O falso-ponta era a função que melhor expressava a cultura brasileira na tática. Era ele que fundava as diagonais defensivas e ofensivas, gerava assimetrias, criava superioridade numérica no setor da bola, ligava os setores, dava pausa, e organizava o time sem a bola.
O Velho Lobo só foi um “pai fundador” porque era um apaixonado pelas marcas do Brasil impressas no jogo. Era um apaixonado pelas características ficcionais e literárias daquele Brasil que criou a sua própria linguagem para se expressar no futebol.
Comprando a ideia de “indolência”, sem perceber o choque de paradigmas, muitos torcedores estão ansiosos para se livrarem dos antigos ídolos como se a culpa fossem deles por ser o que são. Quando a expectativa não for cumprida, perceberão que desperdiçaram momento raro na história. O dinheiro compra grandes jogadores, mas não forma um grande time e nem cria química (ou afeto). Ter um grande time, com grandes jogadores e com química entre eles é mágico e raro.
Não lembro quando aprendi a gostar de futebol. Lembro que era chamado de Dieguito. Não pelo nome, mas porque de pé descalço sonhava repetir os mesmos desaforos com a bola.
Várias vezes escutei que o futebol brasileiro não se preocupava com a organização ofensiva, pois dependia da inspiração e da liberdade. Uma espécie de “fazes o que tu queres”. Com o tempo, descobri que era ignorância e pretensão. A primeira por não se interessar pelo passado. A segunda por não respeitar os artistas e os técnicos que construíram a nossa história.