Estréia com vitória dos Azzurri. Após um sustinho inicial, não tardaram a equiparar o placar e muito menos a virar. Gol aos 10′ e aos 16′, a pobre da Albânia teve de se contentar com uma migalha do impossível. O primeiro tento veio da cabeça de Bastoni, simbolizando a primazia do setor defensivo italiano, que, mantendo a tônica histórica, é o de maior qualidade no elenco levado à Euro. Na Itália, quem calça a bota primeiro é o zagueiro.
Ainda que o camisa 23 tenha tido seu impacto direto no resultado, quem mais saltou aos olhos foi o jovem cabeludo ao seu lado. Um rosto que inevitavelmente leva o espectador a lembrar de um certo Paolo, também lateral esquerdo de origem. Riccardo Calafiori ascendeu como um foguete à titularidade na nazionale italiana após uma temporada verdadeiramente espetacular sob o comando de Thiago Motta. Bastaram dois amistosos para convencer Spaletti de que um craque não se deixa de fora, nem que seja preciso adaptar a função de um dos pilares da equipe.
Tanto Bastoni quanto Calafiori são defensores de enorme vocação ofensiva, e também canhotos. Na Internazionale, boa parte das entradas no último terço surgem das conduções do zagueiro pela esquerda da trinca, dialogando bem com Di Marco e encontrando ótimos passes. No Bologna, progressões são costuradas através de projeções do quarto zagueiro, se lançando até o campo de ataque. Ao que tudo indica, Spaletti entende que a contribuição ofensiva do novato é mais valiosa à equipe, priorizando confortá-lo em seu sistema.
Partindo de um 4-2-3-1, a Itália mudava sua estrutura para um 3-2-5 em organização ofensiva, sendo Bastoni o zagueiro central. Em comparação com o que faz Simeone Inzaghi, limitando um pouco suas liberdades com bola. Dessa forma, foi Calafiori quem ditou boa parte do ritmo ofensivo da Azzura, contando com muitos apoios de Barella, autor do gol da virada e referência técnica da equipe. Até pela forma como cada zagueiro se propõe a atacar, imaginei que Spaletti iria posicioná-los de maneira inversa, cogitando inclusive a titularidade do também canhoto Buongiorno, acostumado a jogar em linha de 3 pelo Torino. Mas, talvez por princípios defensivos, optou pelo que foi, e deu muito certo.
Ainda que de pé trocado e participando de maneira distinta, Bastoni pode brincar um pouco. As dinâmicas da equipe pareciam armadas para que os zagueiros atingissem um nível de influência parecido com o que têm em seus clubes. Bem menos aventurosos, mas suficientemente participativos. Pela direita, Di Lorenzo parecia mais preocupado em dar segurança aos zagueiros do que em avançar, mais contido e pelo meio. A exceção do gol do Barella, jogada em que se lançou até a área. Por dentro, era constante o recuo de Jorginho, permitindo a projeção de Calafiori ou do próprio lateral napolitano.
Prosseguindo com o meio-de-campo, o quadrado que um 3-2-5 naturalmente desenha não era lá tão quadrado assim. Fora os movimentos já comentados do ítalo-brasileiro, Barella também se aproximava bastante da defesa, sem que, é claro, perdesse a presença no ataque. Vimos isso no golaço que marcou. Já os meias avançados tinham papéis distintos. Enquanto Frattesi era, como de costume, um infiltrador, sempre pisando na área e, em fases mais baixas de construção, viabilizando espaços para Chiesa ficar em 1×1, Pellegrini ia circulando por ai, mais ou menos como faz na Roma. Por vezes, também trocava de posição com Di Marco, algo que o ala campeão italiano adora fazer. Gosto disso.
Com o bom Scamacca e o excelente Chiesa dando o toque final de agressividade no último terço, foi assim que a Itália colocou as cartas de ataque na mesa. Defensivamente, um 4-5-1 paciente como um todo, mas com saltos agressivos da dupla de meias interista. Barella e Frattesi alternavam na maioria das vezes, mas chegaram a pressionar juntos lá em cima em diversos momentos, com Pellegrini e Chiesa resguardando mais os flancos e Jorginho protegendo a zaga.
O jogo ficou bastante morno do meio pro final, algo que a Itália já havia demonstrado no amistoso contra a Bósnia, quando também definiu a partida na primeira etapa. Uma equipe bem consciente de suas ações e de que não precisa de muito para manter as rédeas em confrontos desse tipo. Construia belas trocas de passe por dentro, evidenciando a fluidez e o bom entendimento dos meio-campistas, e ficava por isso. Uma chegada de Frattesi ali, um chute de Chiesa acolá, enfim. O primeiro passo da bota foi com o pé direito de Barella, mas também com o esquerdo de Calafiori e Bastoni.