Contra a Bélgica, a França ganhou daquele jeito, não por causa disso ou daquilo, daquela tática ou daquele plano, mas ganhou de normal, como se vitória tivesse decidido o caso na obrigação. É o que parece. Mas não é bem assim. Assim como o Real Madrid, o time francês sabe jogar futebol e sabe ganhar. Sabe negociar.
Nesse confronto, a Bélgica mudou algumas coisas. O 424, com De Bruyne por dentro na linha de ataque, deu lugar a um 325 conservador em termos de dinâmicas. Três na saída e De Bruyne na base ao lado de Onana. Os belgas decidiram pela aversão ao risco, não forçaram uma saída curta, os da base mantinham-se posicionados atraindo a pressão e o que restava era bola longa para os dois atacantes, Lukaku e Openda.
Raramente a Bélgica atacava com outra alternativa. Vez ou outra, Theate avançava, por exemplo, se ensaiava uma saída lateralizada e alguém achava um passe pra dentro. Mas isso porque a França não pressionava os zagueiros na saída, encaixava nos dois da base, e os atacantes que saíam nos defensores mais se preocupavam em cobrir o passe. Assim o jogo ficou amarrado, travado, lento, e até os comentaristas falavam de uma atitude “conservadora” por parte dos times.
E nisso convém pensar. Ora, não era bom para a Bélgica esse time de atitude? Talvez. Jogo amarrado, pouca transição, tira o trunfo que França tem na transição defensiva com Rabiot e Kanté; tira o melhor de Mbappe. Mas não é assim que a França funciona. Amarrar o jogo e esperar por um lance, por uma jogada, certamente dará a vitória à França, porque esse tipo de ambiente privilegia justamente a França! Um jogo assim, sem uma cara, sem que ninguém diga a direção, vai dar França. São eles que vão achar um gol “do nada”.
Alguns detalhes como Griezmann de ponta direita acabam não fazendo tanta diferença. Ou pensar na postura de Tchouameni vestindo a capa de Toni Kroos e emulando o alemão com o posicionamento e as inversões de bola. De todo jeito, é a França, crua, simples, normal, sem apego a absolutamente nada que não seja o jogo. O jogo, para eles, é sobre vencer. Aceitam qualquer circunstância; comem qualquer prato. Não se espera nada da França.