Fede Redondo: Futebol no Sangue

Federico Redondo com a bola nos pés pelo Argentinos Juniors

Reunidos no hotel Palace de Madri, em 1996, Daniel Passarela e Fernando Redondo discutiam, mais uma vez, a convocação do volante para a seleção. O treinador exigiu que o jogador do Real Madrid cortasse seus icônicos cabelos longos e loiros para que vestisse a camisa argentina. Fernando recusou de prontidão. “A seleção está acima dos homens e dos nomes”, disse o técnico, alegando que revisaria a necessidade de convocá-lo.        

“Yo digo que hay que reivindicar la importância que tiene el jugador de futbol y que aparentemente ultimamente se habian olvidado. Creo que Redondo hace muy bien, porqué no creo que pase por el pelo un poco mas corto o un poco mas largo el hecho de integrar la selección argentina. Creo que aca se equivoca Passarela, creo que es um capricho. Y, bueno, que tendrá que reverlo Passarela. Creo que la posición de Redondo es totalmente normal. Gracias a Dios lo hizo Redondo. Yo estoy muy feliz. Redondo nos pone de nuevo en lo alto, a los jugadores de futbol.”

Diego Armando Maradona.

Em entrevista ao programa “Domingol”, também em 1996, Fernando diz que sua personalidade é “redonda”, flexível. Mas a identidade não se negocia. Como disse Caniggia, que também se recusou a cortar o cabelo, ”Passarela ergueu a Copa de 1978 graças aos gols de Kempes, mais cabeludo que Cristo. A história do futebol argentino se escreve com cabelo comprido”. Ser jogador do lado de cá do Atlântico é ser um símbolo, uma representação do si mesmo e do imaginário de milhões. É um compromisso com os sonhos daqueles que se espelham. Renunciar à própria essência, se subjugando à docilização (ou a uma ordem direta), é trair a si próprio. Nós, sul-americanos, não podemos esquecer da importância que tem o jogador de futebol. Redondo jamais se deixou esquecer, e lançou Federico, seu filho, no mesmo caminho.

“El pelo es parte de mi personalidad, no me lo voy a cortar”

Fernando Redondo.

Mesmo tendo nascido em Madrid e passado os primeiro anos de sua vida em Milão, enquanto seu pai ainda atuava, “Fede” é argentino. Tal qual seu pai, fez toda sua formação como jogador no “semillero del mundo”, como é conhecida a categoria de base do Argentinos Juniors. “Yo he tenido la suerte de crescer en un club donde siempre se priorizo el buen futbol. Siempre em Argentinos tuvimos la libertad para jugar. Siempre se hablo sobretodo del respeto por el balón, del toque”, declarou Fernando numa conversa com Menotti no programa “El Pelotazo”, em 1996. Todo pai quer o melhor para o filho.

“Tuve dos propuestas concretas el año pasado, pero no era el momento oportuno… Es cierto. Es muy joven todavía, tiene que seguir madurando y cumpliendo el proceso de formación. Tiene las condiciones, el resto depende de él.”

Fernando Redondo, sobre Federico, ao Diário Olé em 2020, quando o filho ainda tinha 17 anos.

Com pouco menos de um ano no profissional do “Bicho”, Federico empolga aqueles que viram seu pai jogar. Por mais que destro, os trejeitos são os mesmos. As longas pernas te fazem duvidar do controle. A bola parece tão distante, como pode tratá-la tão bem? E Redondo vai pincelando-a com a parte externa do pé o máximo de vezes possível. Um amor expressado pelo toque físico. Movendo os braços durante as conduções, o falso desengonçado nos provoca, nos instiga a procurar a pelada mais próxima. Vê-lo nos devolve a boa e velha vontade de ter uma bola por perto.

“Seguro que he heredado lo de mover los brazos”

Federico Redondo, em entrevista ao Relevo

Assim como seu pai, sempre pisa na bola antes de passá-la, abusando do engano. Finge que vai para um lado, e vai para o outro. Por ser tão grande, fazer isso com o corpo dá muito trabalho. Faz com pés. O que para muitos pode parecer um toque a mais, um atraso, é na verdade a manipulação da marcação. E que incrível é seu passe longo. Fatiando ou chapando, a bola viaja com impecáveis precisão e força.

Fede, porém, não é um clone. Cedo para dizer se é menos driblador, menos destemido. Aparenta mais camisa 5, muito pelas características de seu tempo. Como ele próprio disse, no profissional está se lançando menos ao ataque:  “En categorías inferiores, en el doble pivote, yo llegaba más al área. Fue con Gabi (Milito) cuando empecé a trabajar de forma más posicional.”

Aos que ainda não conhecem o herdeiro da dinastia Redondo, vem aí o mundial sub-20. Sediado na Argentina, terá início no dia 20 de maio. Ótima ocasião para ver Fede trilhar seus primeiros passos com la albiceleste. Se tudo correr bem, ele logo terá a sorte de encontrar Scaloni, que definitivamente não irá sugerir uma ida ao barbeiro. 

Matéria Uol – Há 20 anos, ‘Corte o cabelo ou te corto da seleção’

Matéria Relevo – Fede Redondo

Matéria Olé – Redondo: del futuro de su hijo a sus ganas de dirigir

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima