Dorival Júnior não esbarra em ninguém

Dorival excluído da roda antes da disputa de pênaltis contra o Uruguai

Dorival Júnior não esbarra em ninguém. Chega sempre mansinho e não quer incomodar. Em casos extremos, dá um leve toque com a ponta dos dedos, pede desculpas… Não é isso? Ele vive num estado de penitência e de contrição comum aos santos, e da sua alma de bruços procede um pedido de perdão. Perdão. Perdão senhor, perdão doutor, perdão fulano, perdão beltrano, perdão por aparecer, por ser técnico, por perder, por ganhar, perdão…

Dorival Júnior nunca derrubou um objeto sem querer e nunca chutou um móvel. Calcula bem a expressão corporal, conduz bem a máquina (nunca tomou uma multa, aliás). Ele prefere se contrair, reduzir-se, minusculizar-se. Se gente expansiva o incomoda, não se sabe, não se sabe se ele nutre inveja ou nojo do expressivo e espalhador. Mas é que ele não espalha. E Deus me livre de me espalhar assim, ele pensa.

Vai pedir conselhos Àquele-que-pode-ensaiar-saídas-de-bola, vai respeitar o Senhor-muito-importante (porque ele ama respeitar pessoas). Vai procurar saber como que. Como que lá. Mas jamais andará derramando a si próprio, não se verá pingando do corpo e melando o chão o caldo da sua alma, não encherá o ambiente com seu ser imaterial. Acima de tudo, jamais dirá: “eu prefiro”. O Dorival Júnior não esbarra em ninguém.

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