Entrevistador: Vamos mudar de assunto. Falemos de Maradona. Por que houve esse longo período de “distanciamento” entre vocês?
César Luis Menotti: Eu vi Maradona crescer. Tivemos uma relação afetiva forte, quase paternal. Eu quis que ele carregasse uma bandeira: a do futebol bonito. Via nele um novo rei que demonstraria ao mundo a verdade do futebol. Mas, um dia, ouvi ele declarar que apenas o resultado importava. Eu sofri. Como um pai decepcionado porque seu filho escolhe um caminho diferente daquele que sonhou para ele. Sua imagem ficou prejudicada aos meus olhos. Depois, os jornalistas, que tomaram partido na polêmica Bilardo-Menotti, o associaram a Bilardo.
Entrevistador: Em suas declarações, Maradona raramente defende o futebol bonito…
César Luis Menotti: O futebol bonito, ele o transmite jogando.

𝗔 𝘃𝗲𝗿𝗱𝗮𝗱𝗲 𝗱𝗼 𝗳𝘂𝘁𝗲𝗯𝗼𝗹
Desde muito cedo, quando o futebol se expande para além de terras britânicas e vai ganhando outras faces, uma discussão polarizada ganhou forma. Beleza ou resultado? Futebol força ou futebol arte? Futebol ofensivo ou futebol defensivo? Plasticidade ou eficiência? São muitas as variações de um debate que está fundamentalmente concentrado na estética do jogo de futebol. Com o esporte se tornando um fenômeno global, um grande ativo cultural e também um dos grandes produtos do mundo atual, surge uma espécie de terceira via de pensamento em relação ao esporte, dentre os intelectuais: a do futebol enquanto “ópio do povo”. E dentro disso, o futebol como algo pelo qual não se vale a pena falar para além disso; algo que não é tratado com seriedade enquanto fenômeno estético e cultural, que não merece atenção investigativa. Em suma, todas essas tentativas de reduzir o futebol a uma determinada maneira de o enxergar ou a uma das suas muitas formas estão equivocadas. Afinal, é impossível universalizar a percepção em torno do jogo. Penso que a maneira como se joga futebol e como se enxerga o futebol é, evidentemente, afetada pela maneira como a nossa relação com o mundo e com o futebol se desenvolveu. O problema da leitura universalizada, da qual tanto os detratores do futebol quanto os seus admiradores excessivamente românticos são adeptos, é que se perde de vista as particularidades, os fatores contextuais e as variações que acontecem de acordo com o tempo.
É nesse cenário que surgem as seguintes tendências reducionistas: a de enxergar o futebol por uma ótica puramente utilitarista e pragmática; a de ignorar os elementos formais e científicos do futebol e o reduzir somente ao “futebol arte”; e a de desdenhar da ideia de “levar o futebol a sério”, tratando esse tipo de debate em torno da sua estética (dentre outras coisas) como algo bobo. E dentro disso, o antagonismo entre essas diferentes visões existe e os choques não acontecem com diálogos, mas com tentativas de sobrepor um pensamento pelo outro. Para buscar a compreensão do futebol enquanto fenômeno estético, precisamos primeiro aceitar que sim, o futebol é um fenômeno que vai muito além da pura competição e dos resultados ou falta deles, e depois tentar enxergar o diálogo entre os diferentes fatores que o compõem, assim como os prós e contras das diferentes abordagens em torno dele. Apesar de o resultado no futebol inevitavelmente influenciar na percepção que se tem em torno de uma equipe ou um jogador, assim como influenciar no julgamento estético em torno do jogo.
“O que sempre conta nas coisas da arte é mais o aberto do que o alcançado. Com razão, Adorno observa que todas as obras de arte significativas permanecem, a bem dizer, apenas indicações de obras bem-sucedidas. Grandes apresentações teatrais entusiasmam mais como promessas do que como recompensa. Naquilo que acontece, a experiência estética registra a cintilação de outra coisa, uma possibilidade que ainda está aberta, conservando utopicamente a condição de algo indeterminado que se anuncia.” Lehmann (2007)
A Estética opera numa articulação entre o sensível e o racional. Insubordinada a fatores externos, auto-suficiente, ciência da percepção. Apesar disso, ela não existe somente em torno do que está feito, mas também ao que ressoa e às possibilidades que emergem dessa criação. Ela não se encerra nas sensações e emoções imediatas que temos ao entrar em contato com uma obra, mas se expande para as ressonâncias que continuam a se desdobrar, para as novas possibilidades que ela abre com o tempo. Quando consumimos uma obra de arte focados exclusivamente em decupar seu tecnicismo — como, por exemplo, ao assistir a um filme e falar unicamente sobre suas escolhas técnicas, sem refletir sobre o que essas escolhas evocam — acabamos reduzindo a experiência a algo superficial. Se a preocupação do filme reside apenas em um exibicionismo técnico, em usar a técnica pela técnica, então podemos dizer que esse filme é uma obra vazia. Isso não quer dizer que a forma não possua imanência.
“Além do espetáculo decorrente do êxito de determinado gesto ou de uma sequência deles, também há um prazer estético invisível, fruto da tensão originada pelo desenlace imprevisível que cada jogada proporciona. O gol – goal no original, significando meta, objetivo – é um desfecho possível e pode proporcionar aos espectadores o prazer estético pela forma, quer dizer, pela execução primorosa. Mas pode, simplesmente, proporcionar o mesmo êxtase em razão da importância que ele possui para o resultado final do enfrentamento ou pela expectativa criada em relação a ele. Isso tudo, é claro, depende ainda de quem seja o observador.” (Sander Damo, 2001)
O momento de choque entre o atacante e o defensor, por exemplo, é um momento de tensão, onde o objetivo de ambos é conseguir manipular a ação do oponente. O atacante pretende esconder sua intenção e influenciar, com o seu corpo e a bola, a maneira com que o defensor vai abordar. O defensor, em contrapartida, tem como intenção tentar prever o movimento do atacante para tentar se livrar dele e conseguir se prevenir, por consequência, ganhando a posse ou destruindo a ação ofensiva. Nesse momento, o homem que está com a bola tem que levar em consideração uma série de fatores para conseguir avançar: sua posição angular, o que tem nas costas do opositor (mais oponentes ou só espaço). É um ato que, por si só, tem como objetivo manipular o seu oponente. Por isso, o drible é tão descrito como o “engano”. E na “arte do engano”, temos alguns jogadores que se destacam mais do que os demais. Isso por consequência do seu talento, que, por sua vez, envia para o espectador um tipo especial de conteúdo. O futebol é uma espécie de “guerra simbólica”, no qual 11 de cada lado se enfrentam com o objetivo de fazer o objeto chegar no local que está atrás dos 11 “inimigos”: o gol. Não à toa, dentre os maiores gênios da história do futebol no imaginário popular, estão os jogadores que mais encontram soluções a partir do repertório individual dentro dessa estrutura. Então, a beleza como a concebemos no futebol não existe por si só. Ela surge como consequência da capacidade individual.
Quando Garrincha entortava seus oponentes com o “mesmo drible”, que na realidade nunca era exatamente o mesmo drible, afinal, o gênio sabia lhe conferir nova forma nas diferentes variáveis (estando na esquerda, na direita, no centro e em diferentes alturas), e a torcida ficava em estado de êxtase, não era só pelo fato do movimento ser maravilhoso, mas pelo que o movimento trazia: oponente tonto, caído, desnorteado, Garrincha soberano. Mas, além do resultado e da beleza decorrente da execução técnica, a imprevisibilidade, a tensão e a reação até dos oponentes diante de tal tento contribuem fortemente para nossa experiência estética daquele jogo.

O que acontece antes do gol ou da tentativa do gol tem um peso enorme na experiência de assistir futebol e de gostar de futebol. O gol é o objetivo, a consumação de todo o resto; a finalização é a técnica final. Mas é também o que acontece antes do gol que nos leva a esse tipo de discussão. O futebol possui uma estrutura base de regras formais e preparos coletivos. Existe um objetivo: marcar mais gols que seu adversário. Existe uma estrutura física que recebe as duas equipes, e existem os sistemas, os modelos de jogo e suas dinâmicas, que variam de acordo com elenco, ideias dos treinadores e realidade cultural/material. De certa maneira, é inerente a essa série de regras um certo grau de austeridade. E esse futebol que conhecemos — que não é o único dos “futebóis”, mas é o mais popular — de certa maneira, já foi pensado inicialmente pelos britânicos como algo bastante rígido, direto e de pouca interação coletiva, a ponto de a própria ideia de interação a partir dos passes ser interpretada como um sinal de fraqueza e covardia (Wilson, 2008).
É a partir de diferentes interpretações do jogo dentro do próprio Reino Unido, mas principalmente do que passa a acontecer fora dali com o jogo, que o futebol gradualmente vai ganhando novas formas de existir. E partindo desse ponto, depois de todo o dito, que é pertinente abordar a “guerra” entre César Luis Menotti e Carlos Bilardo, tendo Diego Maradona no meio do fogo cruzado.

Em resumo, Menotti e Bilardo são dois representantes diretos dos dois polos anteriormente mencionados. Uma discussão que não nasce com eles, afinal, desde os primórdios existia na Argentina (e em outras partes do mundo, mas aqui focaremos neles) a discussão entre o “football criollo”, fruto, em teoria, da reinterpretação do futebol que aconteceu quando ele entrou em contato com as camadas mais desfavorecidas, compostas principalmente por descendentes de espanhóis e italianos, que servia como contraponto ao futebol mais rígido e austero da Inglaterra. É claro que isso ganha conotações idealizadas, que muitas vezes podem turvar a visão em torno do futebol, mas tem sim lastros na realidade. Afinal, é um fato, não por questões puramente inatas ou por um “dom divino”, menos ainda por algum tipo de questão genética fruto da “mistura entre raças”, que o futebol que chegou na Argentina e na América do Sul não permaneceu o mesmo. Isso se deu por interações com os contextos culturais e materiais dos países daqui, por questões concretas. Mas, em todo caso, Menotti se desenvolveu como um representante de “La nuestra”, do futebol bonito, preocupado com questões estéticas, enquanto Bilardo era um exímio representante do futebol resultadista. Essas visões antagônicas não só resultaram em inúmeras trocas de farpas, como em décadas de uma discussão de dois lados: Menottistas vs Bilardistas. A coisa, inclusive, chega a fugir do campo da ideia de jogo e se torna algo ideológico. Bilardismo e Menottismo são formas diferentes — e antagônicas — de enxergar o futebol e o mundo.
Maradona surge no conflito da seguinte forma: é Menotti quem inicialmente o convoca para a seleção argentina e convive de muito perto com ele durante os seus primeiros anos como jogador profissional, desenvolvendo não só uma amizade, como um certo grau de identificação em torno do que pensavam de futebol. Porém, depois da sua saída da seleção pós-Copa de 1982, é Bilardo quem assume o comando, onde permaneceu até a Copa de 1990. Nesse meio tempo, fez de Maradona o capitão da seleção e conquistou com ele a Copa do Mundo de 1986. Assim como com Menotti, mas em um grau talvez mais intenso no aspecto amor e ódio, a relação entre Diego e Bilardo variou entre os tapas e os beijos. No documentário Bilardo, o Doutor do Futebol, Maradona é descrito como o “filho homem” que ele não teve. Em outros momentos, o próprio Bilardo classificou a relação entre ambos como uma espécie de casamento, atenuando que relações desse tipo normalmente são marcadas tanto por afeto quanto por eventuais conflitos. Acho importante destacar isso, justamente para evidenciar que, apesar da identificação mútua — talvez mais em termos de obstinação do que de visão de mundo e de jogo no caso de Maradona e Bilardo — também existia tensão entre Maradona e seus dois mentores, que “por acaso”, também carregavam entre si uma grande rivalidade.
Maradona, mesmo que de maneira implícita, era uma figura central desse conflito de ideias. Enquanto jogador, suas características são próximas ao que Menotti defende como futebol. Em contrapartida, sua melhor versão na seleção argentina não foi sendo comandada por Menotti, mas por Bilardo, que vê o futebol de maneira mais pragmática. Dentro disso, é importante trazer à tona os seguintes fatos: existe no futebol, como mencionado anteriormente, pela sua rigidez inerente à própria estrutura e formalidade, uma limitação em termos de individualidade. Portanto, seria difícil definir algo próximo da “liberdade total”. Mas já a própria ideia de jogar bonito ou jogar feio, de certa forma, quando saem do campo da ideia e se chocam com o jogo real, tem dificuldades de se manter, pelo menos da maneira como são fantasiadas no imaginário.
Tomando como exemplo a seleção argentina de Lionel Scaloni, que usa como princípios do seu jogo com bola os conceitos da “La nuestra”, no jogo sem bola não se envergonha de fazer o “trabalho sujo” da maneira que for necessária para que o resultado seja alcançado. Como na Copa América de 2021, onde enfrentaram o Brasil e tornaram a vida de Neymar um inferno com provocações e faltas infinitas, como dito pelo próprio Rodrigo de Paul ao admitir a dificuldade de parar o brasileiro. Ou a seleção “resultadista e pragmática” de Bilardo, que encontrou uma forma de confortar Maradona e, por consequência disso, rendeu algumas memórias inesquecíveis do futebol argentino também em termos de estética.
Esse conceito de bonito ou feio, para além de já sofrer variações contextuais e diacrônicas, nos aspectos normalmente relacionados a ele no futebol, sofre alterações e às vezes se mistura. Às vezes, não necessariamente vai passar pela intenção, mas pela maneira como as coisas acontecem. Seria necessário um esforço para fazer com que uma equipe de primeiro escalão “jogue feio”. Como seria difícil exigir que uma equipe de pouco orçamento e que tem objetivos pequenos em grandes competições jogasse “bonito”. O que não quer dizer que ambas as coisas não possam acontecer, mas certamente não são a tendência. O campo da idealização normalmente não enfrenta os obstáculos da realidade. Na realidade, temos pressão externa, exaustão, lesões, as infinitas variáveis que podem mudar a maré de uma hora para outra.
Mas, além disso, temos uma outra questão que é, talvez, a questão-chave: a beleza não é puramente uma intenção que existe por si, mas uma consequência da maneira como se pretende competir. Inclusive, para treinadores como Menotti e Telê Santana, abertamente preocupados com entregar para quem assiste modelos de jogo sensíveis quanto ao fator estético. Para Menotti, a beleza era a consequência das coisas bem feitas (2017). Já Telê afirmava não colocar jogador em campo para “enfeitar” jogada, mas para jogar um futebol que todo mundo gosta (1992). Mas afinal, qual é esse futebol que todo mundo gosta? É difícil definir, mas para Telê se tratava do futebol que ele acreditava o aproximar do êxito. Pessoas têm convicções de futebol, e essas convicções são afetadas pelos fatores contextuais, e, portanto, o que vemos em campo não é meramente uma extensão do pensamento de quem organiza aquele time, mas a conjunção de uma série de fatores. Até porque, a relação entre treino e jogo não é uma relação de causa e consequência. O futebol, para além de ser uma modalidade acíclica e com muitas variantes que contribuem para a imprevisibilidade, tem um fator básico normalmente ignorado: existe um adversário do outro lado, com os mesmos (em números) 11 jogadores e com o mesmo objetivo. O que se joga ou deixa de jogar está também condicionado pelo que o seu adversário joga ou deixa de jogar. A definição de sucesso ser medida por um troféu ao fim das campanhas ou pelo placar visto jogo a jogo, ignorando todo o resto, já se equivoca. Mas, para além disso, mesmo nessa noção de sucesso, ignorar todas as variantes do futebol para focar exclusivamente em quem ganhou mais títulos e quem marcou mais na partida é uma ideia ridícula.

Então, acho que a grande questão não é que existam treinadores que jogam bonito e treinadores que jogam feio (sim, existe isso, mas não dessa forma) e sim treinadores que têm outros fatores para além do resultado, como coisas que lhes são caras no futebol. Às vezes, a própria noção de resultado é mais ampla, como sempre diz Fernando Diniz. O sucesso, para ele, vai muito além de ser campeão, e, apesar disso ser transformado em piada — afinal, o futebol também é esse tipo de ambiente — eu estou plenamente de acordo com ele. Assim como, às vezes, é plenamente possível um treinador que tem um leque mais reduzido do que considera um bom resultado (ou seja, um treinador pragmático) jogar um futebol considerado “dominante”, com mais posse de bola, mais volume de jogo, mais gols, e ainda assim, que esteticamente não agrade ao paladar de todos. Não se pode reduzir a percepção do futebol ao que nós enxergamos, nem a universalizar. Então, portanto, o bom e o ruim, o bonito e o feio, o agradável e o desagradável, para além de terem sentidos e resultados diferentes no campo das ideias e no campo real, também têm seu julgamento condicionado ao contexto e às particularidades de quem e onde se julga.
Entendido tudo isso, a momentânea frustração de Menotti com Maradona, durante os anos do camisa 10 com Bilardo, foi, como ele mesmo sugere, por se frustrar com o fato de existir algum nível de identificação entre Maradona e seu arqui-rival, contrariando o ~ projeto ~ de Maradona que ele tinha. Em contrapartida, apesar de uma relação ainda mais conflituosa com Bilardo, em partes também, por diferenças quanto ao futebol, Maradona conseguiu performar talvez no melhor nível de sua carreira sob o comando de Bilardo e, por consequência disso, muitas memórias inesquecíveis daquela Copa de 86 foram construídas. Ou seja, a coisa no fim foi muito além do resultado.
O antropólogo Roberto DaMatta tem uma visão interessante sobre virtuosidade. Para ele, algo que vai além da pura questão inata. É também sobre engajamento, e, em grande parte, engajamento estético. Não se luta contra a regra, mas com a regra (DaMatta, 1982). É a capacidade de, dentro de um ambiente onde as regras são valorizadas e existe um alto grau de hierarquização (como a relação jogador-técnico), ter a capacidade de “doar sentido”. Transcender ao máximo as limitações impostas pela austeridade e conferir novo sentido ao que, inicialmente, parece banal. Algo que os grandes gênios têm mais facilidade em fazer. Mas isso não surge como algo que necessariamente mora (só) na intenção dos mesmos jogando futebol, é mais consequência da capacidade que eles têm jogando. Por isso, Menotti acerta ao mencionar que o futebol bonito, Maradona transmite jogando. A ideia de “jogo bonito”, como temos — que pode variar, mas que nesse contexto é bem representada por Maradona — não surge por si só, surge como consequência de quem ele é como jogador de futebol.
O que acontece nos 90 minutos envolve uma gama muito maior de fatores do que se imagina. Por isso, às vezes, as dicotomias presentes do lado de fora do campo encontram muitas contradições quando levamos para o que acontece dentro do campo. E aqui, claro, não faço uma tentativa de negar a importância da crítica, do debate e até dos antagonismos. Pelo contrário, afirmo que são, inclusive, fatores necessários. Mas o futebol não é só uma estrutura formal, apesar de também ser. E os gênios não atuam fora dessa estrutura, mas atuam a transformando. É por isso que, apesar das muitas questões que existiam em torno do pragmatismo bilardista, foi na Argentina de Carlos Bilardo que Maradona entregou ao futebol a grande campanha individual de uma Copa do Mundo. Bilardo, como todo bom resultadista, fez o que lhe deixava mais próximo do título daquele mundial: construiu uma equipe em torno de Maradona. Mas não foi por estar sob comando de Bilardo que Maradona realizou esse feito. Foi em maior parte, por ser Maradona.
